O Novo Ensino Médio como estratégia hegemônica: o papel de redes estadunidenses na consolidação de um projeto neoliberal de educação no Brasil

Abstract

A reforma do Ensino Médio no Brasil, que instituiu o Novo Ensino Médio (NEM), tem promovido uma série de mudanças na educação das escolas brasileiras. Dentre elas, pode-se mencionar a flexibilização e um enfoque dos currículos no ensino técnico e profissional. Tais mudanças são interessantes ao grande capital e são fruto da disseminação da ideologia da classe dominante estadunidense na educação brasileira. A atuação desta classe no Novo Ensino Médio ocorre por meio de redes compostas por diversos atores, dentre os quais merecem destaque as fundações privadas brasileiras. Nesse sentido, a presente pesquisa busca identificar as redes transnacionais vinculadas à classe dominante estadunidense atuantes no Novo Ensino Médio brasileiro e compreender como a sua atuação contribui para a manutenção da hegemonia desta classe. Assim o faz a partir de uma leitura de Antonio Gramsci acerca da hegemonia, por meio da revisão bibliográfica de suas obras e também das de outros autores que abordam as intervenções dos Estados Unidos na educação latino-americana ao longo da história e a atuação das fundações privadas no Novo Ensino Médio. O estudo também se utiliza da análise de documentos sobre a reforma do Ensino Médio e dos sites institucionais das fundações privadas nela atuantes. Desse modo, a presente pesquisa demonstra que a influência da classe dominante estadunidense no Novo Ensino Médio se dá por meio de redes compostas por organizações internacionais e empresas, instituições financeiras, universidades, órgãos governamentais e fundações privadas tanto brasileiras quanto estadunidenses. Merece destaque a Fundação Lemann, que funciona como um dos principais vértices das redes transnacionais, cuja atuação ocorre por meio de projetos para o NEM, soluções educacionais e formação de líderes. Assim, as intervenções da classe dominante estadunidense no Novo Ensino Médio contribuem para a manutenção de sua hegemonia.

The reform of secondary education in Brazil, which introduced the New High School model ("Novo Ensino Médio" – NEM, in Portuguese), has brought a series of changes to the country’s educational system. Among them are the flexibilization of the curriculum and a stronger focus on technical and professional education. These changes serve the interests of capitalism and are the result from the spread of the United States’ ruling class ideology within Brazilian education. The involvement of this class in NEM occurs through networks formed by several actors, with a notable presence of Brazilian private foundations. That said, this research aims to identify the transnational networks connected to the U.S. ruling class that are active in the New High School model in Brazil, and to understand how their actions contribute to the maintenance of this class' hegemony. The analysis is based on Antonio Gramsci’s concept of hegemony, through a bibliographic review of his works and those of other authors who examine U.S. interventions in Latin American education throughout history, as well as the role of private foundations in NEM. The study also includes the analysis of official documents on the High School reform and institutional websites of the private foundations involved. The research demonstrates that the influence of the U.S. ruling class on NEM takes place through networks made of international organizations, corporations, financial institutions, universities, governmental bodies, and both Brazilian and U.S.-based private foundations. Among these, the Lemann Foundation stands out as a key node in the transnational networks, operating through projects for NEM, educational solutions and leadership training programs. Therefore the interventions of the U.S. ruling class in the New High School model contribute to the maintenance of its hegemony.