Transtorno obsessivo-compulsivo e depressão: uma revisão narrativa da comorbidade

Abstract

O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e a depressão frequentemente apresentam-se comórbidos, sendo a depressão o transtorno comórbido mais comum no TOC. Esses pacientes apresentam pior qualidade de vida e maior risco de abandono do tratamento. Este trabalho tem por objetivo revisar a literatura dos últimos cinco anos no que tange as evidências mais robustas e relevantes acerca da comorbidade TOC-depressão, bem como dos transtornos separadamente, com enfoque em fisiopatologia, quadro clínico, diagnóstico e tratamento. A literatura atual é inconsistente e o debate sobre a direcionalidade da comorbidade persiste. A literatura apresenta duas perspectivas primárias, não exclusivas: que a depressão é majoritariamente secundária à carga conferida pelo TOC, e que a fisiopatologia de ambos os transtornos possui considerável sobreposição de fatores. Os subtipos do TOC frequentemente envolvidos na comorbidade são as obsessões de pensamentos repugnantes/tabus, e com menos replicação as obsessões de simetria e compulsões de acumulação. Até o momento, os estudos neurobiológicos na comorbidade são limitados e requerem replicação. No que tange o manejo, a literatura é dividida entre a terapia cognitivo-comportamental (TCC) para depressão antes/durante a terapia de exposição e prevenção de respostas (EPR) para TOC, ou a EPR somente. Para o futuro, estudos de análise de rede têm potencial ao revelar sintomas-chave como alvo de tratamento. Quanto à farmacoterapia, a falta de evidências interroga o seu uso durante o tratamento da comorbidade, e nesse caso pode-se utilizar do conhecimento da crescente prevenção quaternária na medicina para racionalizar e criticar a real necessidade dos psicofármacos sem nível de evidência para tal.

Obsessive-compulsive disorder (OCD) and depression are often comorbid, with depression being the most common comorbid disorder in OCD. These patients have a worse quality of life and a higher risk of treatment abandonment. This study aims to review the literature from the last five years regarding the most robust and relevant evidence regarding the comorbidity of OCD and depression, as well as the disorders separately, focusing on pathophysiology, clinical presentation, diagnosis and treatment. The current literature is inconsistent and the debate about the directionality of the comorbidity persists. The literature presents two primary, non-exclusive perspectives: that depression is mostly secondary to the burden conferred by OCD, and that the pathophysiology of both disorders has considerable overlapping factors. The OCD subtypes frequently involved in comorbidity are obsessions with unacceptable/taboo thoughts, and with less replication, symmetry obsessions and hoarding compulsions. To date, neurobiological studies on comorbidity are limited and require replication. Regarding management, the literature is divided between Cognitive Behavioral Therapy (CBT) for depression before/during Exposure and Response Prevention Therapy (ERP) for OCD, or ERP alone. In the future, network analysis studies have potential to reveal key symptoms as treatment targets. Regarding pharmacotherapy, the lack of evidence questions its use during the treatment of comorbidity, and in this case, knowledge of the growing quaternary prevention in medicine can be used to rationalize and criticize the real need for psychotropic drugs without level of evidence for this.