Entre mirantes e memórias: a apropriação social do geopatrimônio por comunidades locais de Florianópolis - SC

Abstract

A geoconservação social propõe a inclusão de diferentes atores sociais em todas as etapas das estratégias de conservação, assumindo uma nova responsabilidade social. Com uma visão ampliada, abrange o patrimônio natural (geopatrimônio e biótico), cultural e misto. O método integrativo busca articular o conhecimento dos geocientistas com a percepção de moradores e visitantes, valorizando a função social atribuída ao geopatrimônio. Essa abordagem ainda é pouco considerada nos inventários de geodiversidade, como o de Florianópolis. Com base nisso, questiona-se como o conhecimento da função social atribuída por moradores locais ao geopatrimônio influencia sua valorização e conservação, e como isso pode justificar sua inclusão nos processos de seleção do patrimônio. Objetivou-se avaliar as formas de apropriação social do geopatrimônio por moradores locais e sua contribuição para a seleção e conservação desse patrimônio. Foram selecionados os pontos ITA, ING, MML, SSAL, ARM, JOA para aplicação dos formulários. Os dados foram coletados através de formulário misto com 20 questões aplicadas de forma direta e analisados pelo método de análise de conteúdo temática e categorial, identificando frequências simples representadas em gráficos e tabelas. Os resultados apontam que o patrimônio, inclusive o natural, é concebido como expressão de bem-estar, coletividade e legado coletivo. As formas de apropriação social do geopatrimônio estão relacionadas à sua utilização, identificação e proteção, tanto individual quanto coletiva, atravessando aspectos de legitimidade cultural e relações de identidade local, mediadas pela aceitação e pela atribuição de significados a esses lugares. Os participantes se apropriaram desses espaços como locais históricos e afetivos, ou como lugares que proporcionam bem-estar e conexões com a natureza, capazes de despertar relações espirituais e/ou religiosas, como nos pontos ITA, ING, ARM e JOA. Identificaram-se percepções distintas entre os participantes, evidenciando particularidades em cada ponto: o engordamento da praia no ponto ING; a elevação do nível do mar no ponto ARM; a descaracterização da paisagem cultural no ponto SSAL; no ponto ITA, a percepção da despoluição das águas da baía, associada à possibilidade de permanência na orla para contemplação da paisagem; e, no ponto JOA, o aumento de bares e restaurantes. Conclui-se que a compreensão das formas de apropriação social, dos conhecimentos e do envolvimento patrimonial dos moradores locais justifica sua participação na seleção do patrimônio de seus bairros, assegurando que a comunidade não o perceba como algo restrito aos especialistas. Essa participação contribui para evitar conflitos e reduzir a resistência à preservação, especialmente quando as decisões são impostas de forma hierárquica. Esta tese contribui para o avanço do debate sobre uma nova abordagem para a geodiversidade, fundamentada na compreensão da função social do patrimônio natural e na valorização da percepção ambiental dos sujeitos. Traz na geoconservação social a importância da participação ativa dos moradores locais na construção coletiva do patrimônio. Mostra que vínculos de pertencimento e identidade com o território capacitam os moradores na seleção, conservação e preservação dos bens patrimoniais, incluindo o geopatrimônio.

Abstract: Social geoconservation proposes the inclusion of different social actors in all stages of conservation strategies, assuming a new social responsibility. With a broad vision, it encompasses natural (geopatrimony and biotic), cultural and mixed heritage. The integrative method seeks to articulate the knowledge of geoscientists with the perception of residents and visitors, valuing the social function attributed to geopatrimony. This approach is still little considered in geodiversity inventories, such as the one in Florianópolis. This raises the question of how knowledge of the social function attributed by local residents to geopatrimony influences its appreciation and conservation, and how this can justify its inclusion in heritage selection processes. The aim was to assess the forms of social appropriation of geopatrimony by local residents and their contribution to the selection and conservation of this heritage. The ITA, ING, MML, SSAL, ARM and JOA sites were selected for the application of the forms. The data was collected using a mixed form with 20 questions applied directly and analyzed using the thematic and categorical content analysis method, identifying simple frequencies represented in graphs and tables. The results show that heritage, including natural heritage, is seen as an expression of well-being, collectivity and collective legacy. The participants appropriated these spaces as historical and affective places, or as places that provide well-being and connections with nature, capable of awakening spiritual and/or religious relationships, as in the ITA, ING, ARM and JOA points. Different perceptions were identified among the participants, highlighting particularities at each point: the fattening of the beach at the ING point; the rise in sea level at the ARM point; the de-characterization of the cultural landscape at the SSAL point; at the ITA point, the perception of the depollution of the bay's waters, associated with the possibility of staying on the shore to contemplate the landscape; and at the JOA point, the increase in bars and restaurants. The conclusion is that understanding the forms of social appropriation, knowledge and heritage involvement of local residents justifies their participation in the selection of heritage in their neighborhoods, ensuring that the community does not perceive it as something restricted to specialists. This participation helps to avoid conflicts and reduce resistance to preservation, especially when decisions are imposed hierarchically. This thesis contributes to advancing the debate on a new approach to geodiversity, based on understanding the social function of natural heritage and valuing people's environmental perception. It brings to social geoconservation the importance of the active participation of local residents in the collective construction of heritage. It shows that bonds of belonging and identity with the territory empower residents in the selection, conservation and preservation of heritage assets, including geopatrimony.