Análise de invariância da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar em diferentes grupos populacionais

Abstract

A Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA) é um importante instrumento para diagnosticar famílias em situação de Insegurança Alimentar (IA) no Brasil. Desde sua adaptação inicial em 2003, baseada em análises qualitativas, a escala tem sido corroborada por estudos que investigam suas propriedades psicométricas. A literatura aponta que a EBIA apresenta alta consistência interna, forte validade preditiva, adequação dos itens, independência local, confiabilidade, adequados pontos de corte e classificação dos grupos. No entanto, apesar de pesquisas anteriores confirmarem suas boas propriedades psicométricas, a invariância de suas estruturas configural, métrica e escalar em segmentos da população, como em contextos sociais, culturais e territoriais diversos, ainda não havia sido suficientemente explorada. Dessa forma, a presente tese objetiva analisar a invariância da EBIA em diferentes grupos, definidos por sexo, cor/raça, escolaridade, situação urbana e rural, regiões e estados brasileiros. Métodos: trata-se de um estudo psicométrico que utilizou dados secundários da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (PNAD) de 2013, avaliando a versão de oito itens da EBIA em uma amostra de 116.543 domicílios, dividida em três partições, a fim de garantir a consistência dos resultados. O método Alignment foi aplicado para examinar a invariância configural, métrica e escalar da EBIA em todos grupos sociais e territoriais, enquanto a Análise Fatorial Confirmatória Multigrupo (AFCMG) foi utilizada para avaliar a consistência dos resultados entre os grupos de sexo, cor/raça e escolaridade. Resultados: nas análises entre os grupos sociais de sexo, cora/raça e escolaridade, o método de Alignment revelou nuances que a AFCMG não captou, especialmente nos grupos de sexo e escolaridade. No contexto territorial, foram detectadas algumas violações de cargas, de limiares ou de ambas, destacando-se o item 4 em comparações regionais e estaduais, particularmente no Amazonas; e o item 3, em algumas análises envolvendo esse estado. Contudo, a magnitude das violações foi mínima, indicando não-invariância, sendo possível considerar a EBIA como possuindo invariância parcial. Conclusão: nossos achados endossam a validade da versão de oito itens da EBIA como ferramenta eficaz para mensurar a IA em diversos grupos populacionais no Brasil, pelo menos quanto às estratificações por sexo, cor/raça, escolaridade, situação urbana e rural, regiões e estados brasileiros. Esses resultados evidenciam a importância de refinamentos metodológicos e oferecem informações valiosas para fortalecer políticas públicas voltadas ao enfrentamento da fome em um país com tamanha diversidade.

Abstract: The Brazilian Food Insecurity Scale (EBIA) is an essential tool for diagnosing families facing food insecurity (FI) in Brazil. Since its initial adaptation in 2003, based on qualitative analyses, the scale has been supported by studies investigating its psychometric properties. The literature indicates that EBIA demonstrates high internal consistency, strong predictive validity, item adequacy, local independence, reliability, appropriate cut-off points, and effective group classification. However, despite previous research confirming its robust psychometric properties, the invariance of its configural, metric, and scalar structures across different population segments, such as various social, cultural, and territorial contexts, had not been sufficiently explored. Therefore, this thesis aims to analyze the invariance of EBIA in different groups defined by sex, race/ethnicity, education level, urban and rural settings, as well as regions and states in Brazil. Methods: This is a psychometric study using secondary data from the 2013 National Household Sample Survey (PNAD), evaluating the eight-item version of EBIA in a sample of 116,543 households, divided into three partitions to ensure consistency of results. The Alignment method was applied to assess the configural, metric, and scalar invariance of EBIA across all social and territorial groups, while Multigroup Confirmatory Factor Analysis (MCFA) evaluated consistency among groups defined by sex, race/ethnicity, and education level. Results: Analyses of social groups by sex, race/ethnicity, and education level using the Alignment method revealed nuances not captured by MCFA, particularly in sex and education groups. In the territorial context, some violations of loadings and thresholds, or both, were detected, with item 4 showing significant differences in regional and state-level comparisons, particularly in Amazonas, and item 3 in some analyses involving this state. However, the magnitude of these violations was minimal, indicating partial non-invariance, allowing EBIA to be considered as having partial invariance. Conclusion: Our findings support the validity of the eight-item version of EBIA as an effective tool for measuring FI across diverse population groups in Brazil, at least for stratifications by sex, race/ethnicity, education level, urban and rural settings, and different regions and states. These results underscore the importance of methodological refinements and provide valuable insights for strengthening public policies aimed at combating hunger in a country as diverse as Brazil.