Escrevivências no Serviço Social: histórias e trajetórias sobre o protagonismo de assistentes sociais negras na análise da questão racial no Serviço Social

Abstract

Esta tese de doutorado tem como objetivo identificar e analisar o protagonismo de assistentes sociais negras na análise da questão racial no interior da profissão de Serviço Social. Para o alcance do objetivo desta pesquisa realizamos uma pesquisa bibliográfica tendo como ponto de partida os movimentos da população negra desde o período colonial, passando pelo movimento de resistência a ditadura cívico-militar, chegando ao Movimento de Reconceituação com a organização dos Movimentos Negros adensando a produção do conhecimento na área do Serviço Social. Esta pesquisa fundamenta-se no método materialista histórico-dialético, que visa à aproximação com o real, considerando o movimento das determinações, da historicidade, da totalidade, dos processos e suas mediações sociais para o entendimento crítico da realidade. Partiu-se de um estudo bibliográfico para aprofundar as reflexões acerca do tema da pesquisa, em seguida realizou-se uma pesquisa exploratória a partir de estudo documental em que analisamos que o Movimento de Reconceituação reúne os germes para a abertura da necessidade da incorporação da questão racial brasileira pelo Serviço Social. Porém, apontamos que ao mesmo tempo, que houve a hierarquização das análises dos determinantes históricos, a ditadura militar e a ideologia do branqueamento, o mito da democracia racial frearam e obstaculizaram a entrada da análise da questão racial no Serviço Social. Adensado o estudo ora apresentado realizou-se uma pesquisa empírica, a partir de entrevistas, utilizando a metodologia da história oral, com as assistentes sociais negras que, por uma identificação devida aos documentos, artigos e reconhecimento entre os pares, tiveram papel decisivo na inscrição da questão racial, no VI Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (1989), como matéria de análise do Serviço Social. Buscamos conhecer as histórias contadas a partir das experiências das assistentes sociais sujeitas desta pesquisa, de modo a dar visibilidade e reconhecer a importância histórica do protagonismo construído. Além disso, nos propusemos a romper com a história que constitui a identidade profissional que, minimamente ou em nenhum momento aborda, o protagonismo das assistentes sociais negras na análise da questão racial. Atentamos para o protagonismo das profissionais negras como precursoras da introdução da questão racial no interior da profissão cuja relevância se materializa em sua dimensão incontornável na nossa contemporaneidade com a ampliação do debate da questão racial no Serviço Social. As assistentes sociais negras, entrevistadas, precursoras desta história são: Fátima Cristina Rangel Sant?Anna, Magali da Silva Almeida, Matilde Ribeiro, Suelma Inês Alves de Deus. Portanto, partimos de corpos negros políticos, das experiências, das vivências. Registramos as escrevivências, escrevendo histórias das assistentes sociais negras a partir das vozes negras, da oralidade seguindo a tradição africana.

Abstract: This doctoral thesis aims to identify and analyze the role of Black social workers in addressing racial issues within the field of Social Work. To achieve this objective, we conducted a bibliographic review, starting with the movements of the Black population from the colonial period, through the resistance to the civic-military dictatorship, and leading to the Re-conceptualization Movement, during which Black Movements contributed to knowledge production in Social Work. This research is grounded in the historical-dialectical materialist method, which seeks proximity to reality by considering the dynamics of determinations, historicity, totality, processes, and their social mediations for a critical understanding of reality. We began with a bibliographic study to deepen the reflections on the research topic, followed by exploratory research using documentary analysis. This analysis revealed that the Re-conceptualization Movement laid the groundwork for the incorporation of the Brazilian racial question into Social Work. However, we pointed that the prioritization of certain historical determinants, the military dictatorship, the ideology of whitening, and the myth of racial democracy delayed and hindered the inclusion of racial analysis in Social Work. Building on this study, we conducted empirical research through interviews using the oral history methodology with Black social workers who, recognized through documents, articles, and peer acknowledgment, played a decisive role in introducing racial issues as a subject of analysis at the VI Brazilian Congress of Social Workers (1989). Our goal was to bring visibility to and acknowledge the historical significance of the leadership exercised by these Black social workers. Additionally, we sought to challenge the dominant professional narrative, which has rarely, if ever, addressed the contributions of Black social workers to the analysis of racial issues. We emphasize the pioneering role of Black professionals in introducing racial issues into the profession, an indispensable aspect in contemporary Social Work as racial debates gain broader attention. The interviewed Black social workers, pioneers in this history, include Fátima Cristina Rangel Sant?Anna, Magali da Silva Almeida, Matilde Ribeiro, and Suelma Inês Alves de Deus. Thus, we build upon Black political bodies, experiences, and lived realities. We document \"escrevivências\" (writings based on lived experiences), narrating the histories of Black social workers through Black voices, aligned with the oral tradition rooted in African heritage.