Análise psicossocial das opressões de pessoas negras LGBTI+ na Grande Florianópolis

Abstract

As discussões sobre racismo e LGBTI+fobias demarcam experiências que auxiliam a compreensão dessas violências em diversos campos de pesquisa. Com auxílio das contribuições teóricas dos Estudos Críticos de Raça, Gênero, Sexualidade e Decolonialidade, orientei o meu trabalho para visibilizar pessoas negras-LGBTI+, pelas perspectivas interseccionais, para compreender as (des)identificações que possuem com essas categorias, as opressões que sofrem na região da Grande Florianópolis e as formas de enfrentamento que realizam como resistência à situação experienciada com uma análise psicossocial. A partir de entrevistas com seis pessoas negras-LGBTI+ que possuem experiências de opressão na Grande Florianópolis, região amplamente aclamada pela sua cisheternormatividade branca, as situações de violência observadas foram das mais diversas: nos âmbitos públicos e privados; por pessoas próximas, conhecidas ou completas estranhas; em espaços tidos como seguros ou de pouco controle; dentro da própria casa; no ambiente de trabalho; na rua; no Sistema Único de Saúde (SUS); nas relações familiares; e nos espaços de lazer, para citar alguns. A análise buscou dar inteligibilidade sobre os efeitos negativos das opressões, como o isolamento; a solidão afetiva; a fragilização de vínculos familiares, sociais e comunitários; a ausência de espaços de segurança para manifestar sua autenticidade; a mudança de localização geográfica; o adoecimento biopsicossocial; o questionamento se a situação violenta realmente aconteceu; e as situações de conflito. Entre as formas de resistência elencadas: construir abertura para o diálogo; buscar suporte na rede de confiança; compartilhar experiências com outras pessoas; denunciar a violência no momento que ocorre; circular em espaços seguros e evitar territórios de risco; pautar a diversidade e a inclusão; participar de movimentos de mobilização política coletiva; realizar psicoterapia; ofertar a informação para conscientização. A partir das vivências pelas opressões proporcionadas pelo racismo e pelas LGBTI+fobias, foi possível compreender aspectos territoriais e de contexto, de modo a pensar pontes para a construção de políticas públicas e ações de proteção de pessoas negras-LGBTI+

Abstract: The debate on racism and violence against LGBTI+ people brings experiences that are helpful to understand its violence in different fields of research. Using the theoretical contributions of the Critical Studies of Race, Gender, Sexuality and Decoloniality, I guided my work to make black-queer people visible, through a intersectional approach, to understand the (dis)identifications they have with these categories, the oppressions they suffer in the Grande Florianópolis region and ways they carry out resistance of those events. Based on interviews with six black-queer people who had experiences of oppression in Greater Florianópolis, a region widely acclaimed for its white cisheteronormativity, the situations of violence observed were pretty diverse: in public and private fields; by close people, acquaintances or complete strangers; in spaces considered safe or with little control; inside their own house; in the work environment; on the streets; seeking healthcare; in family dynamics; and leisure spaces, to name a few. The analysis sought to give intelligibility about the negative effects of oppressions, such as: isolation; loneliness; the weakening of family, social and community ties; the absence of safe spaces to manifest their authenticity; change places; biopsychosocial illness; questioning whether the situation really happened; conflicts. Among the highlighted forms of resistance: openness to dialogue; support in the network of trust; sharing experiences with others; report the violence as it occurs; use safe spaces and avoid risk places; talk about diversity and inclusion; participate in political organizations and social movements; psychotherapy; provide information for awareness. From the negative experiences of oppression provided by racism and LGBTI+phobias, it was possible to have an understanding the context and its territory, to create bridges between public policies and actions for the protection of black-queer people.