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Abstract:
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O metilmercúrio (MeHg) é um metal bioacumulativo e é a forma mais tóxica do mercúrio orgânico. A contaminação por MeHg é um problema global que ameaça a integridade dos ambientes naturais e a saúde dos organismos que neles vivem. A principal fonte de contaminação desse metal em humanos se dá pela ingestão de peixes contaminados. Estudos mostram que a toxicidade desse metal no sistema cardiovascular é responsável por danos celulares e teciduais em adultos e embriões. Nos organismos contaminados, o MeHg tende a ser amplamente distribuído pela circulação sanguínea para vários órgãos do corpo. Dessa forma, órgãos vascularizados, como o fígado e o pulmão são impactados, entretanto a toxicidade do MeHg nesses órgãos é pouco compreendida. Assim, neste estudo foram avaliados os efeitos do MeHg no tecido hepático e pulmonar, visando as células e estruturas de origem endodérmica (hepatócitos, células epiteliais pulmonares e brônquios) e mesodérmicas (vasos sanguíneos), durante o desenvolvimento. Para tal, embriões de Gallus domesticus foram utilizados como modelo animal de estudo, sendo divididos em dois grupos, (i) expostos a 0,1 µg MeHg/50 µL de solução salina e (ii) exposto exclusivamente a 50 µL de solução salina. A exposição de ambos os grupos ocorreu em E1,5 (1,5 dias embrionário), que corresponde ao período inicial de formação do fígado e do pulmão, e analisados em E10, quando o fígado já apresenta lóbulos e cordões hepáticos e os pulmões apresentam brônquios. Os embriões foram submetidos à histologia de rotina, análises morfológicas e morfométricas, imuno-histoquímicas e histoquímicas. Foi observado que o MeHg causou impacto negativo nas células de origem endodérmica do fígado, evidenciado pelo aumento do tamanho celular dos hepatócitos, acúmulo de gordura nos hepatócitos e desregulação da proliferação desse tipo celular. Além disso, foi observado nas células de origem endodérmica do pulmão, o espessamento das células epiteliais colunares e diminuição do tamanho celular das células epiteliais cúbicas, além da desregulação da proliferação de células epiteliais colunares. O MeHg também impactou as células de origem mesodérmica do fígado e do pulmão, observado pela diminuição do tamanho das células endoteliais hepáticas, aumento do tamanho das células endoteliais pulmonares, alteração no diâmetro dos vasos sanguíneos e desregulação de marcadores celulares envolvidos na formação e integridade vascular. Além disso, foi observado mudança no conteúdo de proteínas, polissacarídeos neutros e ácidos no tecido hepático e pulmonar. Em conjunto, os resultados demonstram esteatose no tecido hepático e alterações na organização bronquial. Essas evidências expõem os efeitos tóxicos do MeHg em órgãos essenciais para a sobrevivência dos indivíduos, o que reforça a relevância dos estudos sobre a toxicidade deste metal. |