Abstract:
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Herbicidas a base de glifosato (HBG) têm sido apontados desde 2015 como potencialmente carcinogênicos para humanos, segundo a IARC (Agência Internacional de Pesquisa em Câncer). Entretanto, os dados ainda são insuficientes para compreender os mecanismos envolvidos nesse processo. O objetivo deste estudo foi explorar o efeito do HBG sobre a viabilidade, a proliferação, a migração e o estado redox de células tumorais da linhagem de carcinoma hepatocelular humano (HepG2). Foram realizados ensaios de MTT em diferentes concentrações (de 0,001 a 50 mg/L) e tempos de exposição (3h, 6h, 12h, 24h, 48h e 72h) para avaliar a viabilidade das células HepG2 tratadas com HBG. Para o ensaio de proliferação celular, foi realização o ensaio clonogênico, onde as células HepG2 foram expostas por 6h com HBG na concentração de 500 µg/L (sendo esta a concentração limite permitida na água potável no Brasil). No ensaio de migração celular, as células foram expostas ao HBG na concentração de 500 µg/L. A migração das células para dentro da ferida foi monitorada ao longo de 3, 6, 24, 48 e 72 horas para avaliar a invasão celular. Para o estudo do estresse oxidativo foi avaliado o efeito do HBG no conteúdo de glutationa reduzida (GSH), bem como a atividade da glutationa redutase (GR) e da tioredoxina redutase (TrxR). Os resultados mostraram um efeito citotóxico do HBG sobre as células de hepatocarcinoma, uma vez que, no ensaio do MTT a viabilidade das células reduziu pela metade a partir da concentração de 5 mg/L após 3h, 24h, 48h e 72h de exposição. Em contrapartida, o HBG demonstrou um efeito pró-proliferativo no ensaio clonogênico, tendo em vista que foi possível observar aumento significativo no número de colônias de células tratadas com o herbicida em relação ao grupo controle. Os resultados da migração celular mostraram que nos tempos de 24h, 48h e 72h o HBG parece favorecer a migração das células de hepatocarcinoma. Os marcadores de estresse oxidativo apontaram que a exposição das células HepG2 ao HBG causou diminuição das defesas antioxidantes analisadas. Os dados obtidos demonstram um efeito duplo do HBG tendo em vista que, ao mesmo tempo em que ele causou citotoxicidade no ensaio de viabilidade celular também aumenta a proliferação celular, em concentração menor, equivalente ao limite permitido na água no Brasil. Nossa hipótese é que esse efeito proliferativo pode ser explicado por uma resposta celular ao estresse induzido pelo herbicida, onde as células foram “selecionadas” pelo HBG e as que sobrevivem à exposição inicial podem entrar em um estado de proliferação aumentada. No entanto, estes resultados destacam a importância de estudos mais aprofundados sobre os mecanismos subjacentes e as implicações clínicas da exposição ao HBG, enfatizando a necessidade de uma avaliação dos riscos associados ao uso deste herbicida em ambientes agrícolas e domésticos. Suporte Financeiro: PIBIC-UFSC, CNPq, FAPESC, CAPES. |