Tradição, cotidiano, soberania: produções da palestinidade entre uma família de Sapucaia do Sul/RS

Abstract

Esta dissertação investiga os processos de construção da palestinidade entre uma família residente em Sapucaia do Sul (RS). A partir do envolvimento etnográfico com os espaços cotidianos da família Rizeq, procura-se descrever as trajetórias traçadas pelos sujeitos na construção de si mesmos como um tipo específico de pessoa. Utilizando os conjuntos conceituais-ideológicos da antropologia da ética das virtudes, analisa-se cenas e outros momentos etnográficos que convidam reflexões sobre a relação entre palestinidade e parentesco, com ênfase nas ressonâncias e tensões entre os espaços de intimidade familiar e os espaços políticos exteriores. A análise do parentesco não se limita a investigar as estruturas ou formas do parentesco, mas sim as relações que indicam as maneiras como ele é vivido, encenado e emulado a partir dos temas relacionados à ?casa?, aos ?objetos? e ao ?sangue?. Assim, ressalta-se que a ?casa? não se resume à sua estrutura física, mas também engloba as interações, narrativas, e lealdades que vinculam as pessoas que compartilham esses espaços. Da mesma forma, os ?objetos? não são simplesmente entendidos como itens materiais passivos, mas como vestígios carregados de afetos históricos e pessoais que se entrelaçam com os processos de construção do parentesco e da palestinidade. O conceito de ?sangue?, por sua vez, é percebido como algo que ocupa um espaço intermediário entre a substância e o código. Ao analisar as questões ligadas ao sangue, considera-se a expressão ?meu sangue é palestino? para ilustrar como as experiências de vida dos sujeitos em diferentes estágios de desenvolvimento biossocial podem gerar interpretações diversas dessa expressão. A análise das conexões entre os ambientes familiares e os espaços políticos busca evidenciar o importante papel dos primeiros na formação das lealdades políticas dos sujeitos, apontando para uma ligação irredutível entre os espaços externos, ocupados pelas organizações políticas e de representação, e a ética do parentesco. Dentro desses ambientes políticos mais abrangentes, busca-se compreender como as lealdades políticas são estabelecidas a partir de demandas relacionadas a sentimentos íntimos poderosos que se entrelaçam com questões políticas mais amplas, como é o caso do patriotismo.

Abstract: This dissertation investigates the processes of construction of Palestinianness among a family living in Sapucaia do Sul (RS). Based on ethnographic involvement with the everyday spaces of the Rizeq family, we seek to describe the trajectories traced by the subjects in the construction of themselves as a specific type of person. Using the conceptual-ideological sets of the anthropology of virtue ethics, scenes and other ethnographic moments are analyzed that invite reflections on the relationship between Palestinianness and kinship, with an emphasis on the resonances and tensions between spaces of family intimacy and external political spaces. The analysis of kinship is not limited to investigating the structures or forms of kinship, but rather the relationships that indicate the ways in which it is lived, enacted and emulated based on themes related to ?house?, ?objects? and ?blood?. Thus, it is emphasized that the ?home? is not limited to its physical structure, but also encompasses the interactions, narratives, and loyalties that link the people who share these spaces. Likewise, ?objects? are not simply understood as passive material items, but as traces loaded with historical and personal affections that intertwine with the processes of construction of kinship and Palestinianness. The concept of ?blood?, in turn, is perceived as something that occupies an intermediate space between substance and code. When analyzing issues related to blood, the expression ?my blood is Palestinian? is considered to illustrate how the life experiences of subjects at different stages of biosocial development can generate different interpretations of this expression. The analysis of the connections between family environments and political spaces seeks to highlight the important role of the former in the formation of subjects' political loyalties, pointing to an irreducible link between external spaces, occupied by political and representation organizations, and the ethics of kinship. Within these broader political environments, we seek to understand how political loyalties are established based on demands related to powerful intimate feelings that intertwine with broader political issues, as is the case with patriotism.