O olhar etnográfico nas práticas de abertura da estratégia orientadas pelo ethos da sustentabilidade em organizações substantivas: uma perspectiva ecológica da estratégia

Abstract

Nas duas últimas décadas, a estratégia como prática se consolidou como perspectiva de estudo que considera a estratégia como uma construção social que acontece por meio das ações e interações de seus praticantes. Nesse período, veremos que ?o fazer? estratégia acontece pela conexão entre práticas, práxis e praticantes, bem como a existência de uma manifestação nas organizações produtivas chamadas de abertura da estratégia e caracterizada pela maior inclusão de praticantes e transparência das informações na construção das estratégias. Entretanto, é urgente que estes movimentos no campo dos estudos da estratégia utilizem a lente da sustentabilidade com o objetivo de enfrentar os grandes desafios climáticos, preocupando-se, sobretudo, com questões ambientais e sociais. O fazer estratégia quando orientado pelo ethos da sustentabilidade em organizações substantivas pode apresentar em suas práticas elementos que desafiam a lógica mecanicista da estratégia. O objetivo desta pesquisa foi compreender como ocorrem as práticas de abertura da estratégia, orientadas pelo ethos da sustentabilidade, a partir de uma visão crítica pautada na estratégia como prática social. Realizamos um estudo etnográfico em duas organizações situadas dentro de uma área de proteção ambiental. As principais técnicas de coleta de dados foram observações participantes e entrevistas semiestruturadas, além de levantamentos documentais e fotográficos em sites institucionais e redes sociais. Também realizamos produção de vídeos, registros fotográficos, gravações de áudio e diários de campo. A seleção das organizações obedece a critérios como, além de fazer gestão nas organizações substantivas, com as decisões extraídas de processos dialógicos e democráticos, possuir estruturas horizontais e flexíveis, relações sociais e redes colaborativas que se formam por propósitos que envolvem as lutas ambientais de preservação e conservação do ecossistema em que vivem. A pesquisa contribui para ampliar a compreensão das práticas estratégicas de sustentabilidade nas organizações. As mudanças no pensar e fazer estratégia passam pela compreensão das múltiplas dimensões da estratégia, por isso observamos as práticas estratégicas pelo prisma social, ecológico e ambiental, histórico e de historicidade, cultural, educacional e pedagógico, da confiança, do poder e da democracia. A contribuição deste estudo reside em apresentar como possibilidade um pensamento sobre estratégia organizacional mais humanista e preocupado com todas as formas de vida, a dignidade humana e o território. Além de trazer, para o debate dos estudos em estratégia, o olhar fora do eixo mercado-capital e conectado a temas urgentes e necessários, como antropocentrismo e ecocentrismo, crise climática, ecologia, ecologia política, democracia, fome, segurança e soberania alimentar, entre outros.

Abstract: In the last two decades, strategy as practice has been consolidated as a study perspective that considers strategy as a social construction that takes place through the actions and interactions of its practitioners. During this period, it was noticed that ?doing? strategy happens through the connection between practices, praxis and practitioners, as well as the existence of a phenomenon in productive organizations called open strategy and characterized by greater inclusion of practitioners and transparency of information in the construction of strategies. However, it is urgent that these movements in the field of strategy studies use the lens of sustainability in order to face the great climatic challenges, being concerned above all with environmental and social issues. Strategy making, when guided by the ethos of sustainability in alternative organizations, can present elements in their practices that challenge the mechanistic logic of strategy. The goal of this research was to understand how open strategizing practices occur, guided by the ethos of sustainability, from a critical view based on strategy as a social practice. We carried out an ethnographic study in two organizations located within an environmental protection area. The main data collection techniques were participant observation and semi-structured interviews, in addition to documentary and photographic archives on institutional sites and from social networks. We also produce videos, photographic records, audio recordings and a field diary. The selection of organizations followed criteria such as, in addition to being substantive organizations, with decisions taken from dialogical and democratic processes, having horizontal and flexible structures, social relations, and collaborative networks that are formed for purposes involving socio-environmental struggles for preservation and restoration of the ecosystem in which they live. The research contributes to broadening the understanding of strategic sustainability practices in organizations. Changes in thinking and making strategies involve understanding the multiple dimensions of strategy, which is why we observe strategic practices from the social, ecological and environmental, historical and historic, cultural, educational, and pedagogical perspectives, trust, power, and democracy. The contribution of this study resides in presenting the possibility of thinking about organizational strategy that is more humanistic and concerned with all forms of life, human dignity, and territory. In addition to bringing to the debate of studies in strategy, the look outside the market-capital axis and connecting urgent and necessary themes, such as anthropocentrism and ecocentrism, climate crisis, ecology, political ecology, democracy, hunger, security, and food sovereignty, among others.