Independência e reconstrução da GuinéBissau: um registro de memórias em processo

Repositório institucional da UFSC

A- A A+

Independência e reconstrução da GuinéBissau: um registro de memórias em processo

Mostrar registro completo

Título: Independência e reconstrução da GuinéBissau: um registro de memórias em processo
Autor: Santos, Pedro António dos
Resumo: Este trabalho é uma reflexão memorialística de natureza exploratória, qualitativa e narrativa sobre o processo da independência e da reconstrução da Guiné-Bissau. Recorri à memória porque a situação e a realidade sobre as quais eu refleti moldaram a história da minha geração e a dos meus pais. Fiz a reflexão sobre quatro abordagens: as particularidades da luta armada e diplomática de libertação conduzida pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) em dois territórios geograficamente apartados, as implicações do engajamento do bloco social-comunista na luta armada e diplomática do PAIGC no contexto da Guerra Fria, os desafios da reconstrução nacional e o papel do Brasil na construção do Estado da Guiné-Bissau. O meu objetivo foi, através dessas abordagens, identificar os acertos e os desacertos do Partido no processo da luta de libertação nacional e da reconstrução nacional; as lições que podem ser aproveitadas dos sucessos da luta de libertação. Essa é uma das formas que eu encontrei para contribuir no debate sobre a instabilidade política que assola o país desde a guerra civil de 1998-99. Concluí que o PAIGC, quando assumiu o controle de todo o território guineense, não manteve os fatores que o particularizaram de outros movimentos de libertação: o diálogo democrático com o envolvimento efetivo do povo e o espírito de mobilização da população como fez nas Zonas Libertadas. Negligenciou a noção de que a luta de reconstrução nacional era também um fato cultural e um fator de cultura e abandonou quase por completo as tabancas onde funcionaram as suas estruturas operacionais e administrativas durante a luta de libertação. Em Bissau, os dirigentes civis e militares do Partido renunciaram o suicídio de classe e aderiram aos encantos do poder com o luxo proporcionado pelo poder (casa com criados, carro Volvo com motorista, salários relativamente altos, divisas) e foram engolfados pela burocracia e pela classe média remanescente da administração portuguesa. As altas patentes das forças armadas, achando-se preteridas da sua função de militantes armados, frequentemente abandonam os quartéis para cobrar protagonismo na administração pública civil. O ativismo dos militares agravou as disputas entre os partidos políticos e, em consequência, desestabilizou a política do país. Todavia, a Guiné-Bissau, independentemente do governo em função, mantêm a política externa não alinhada e autônoma. Mais do que uma tradição do PAIGC, essa política é também por necessidade de ajuda externa para o custeio do seu programa de desenvolvimento.Abstract: This work is a memorialistic reflection of an exploratory, qualitative and narrative nature on the process of independence and reconstruction of Guinea-Bissau. I turned to memory because the situation and reality I reflected on shaped the history of my generation and that of my parents. I reflected on four approaches: the particularities of the armed and diplomatic liberation struggle conducted by the African Party for the Independence of Guinea and Cape Verde (PAIGC) in two geographically separated territories, the implications of the engagement of the social-communist bloc in the armed and diplomatic struggle of the PAIGC in the context of the Cold War, the challenges of national reconstruction and the role of Brazil in the construction of the State of Guinea-Bissau. My aim was, through these approaches, to identify the Party's successes and failures in the process of national liberation struggle and national reconstruction; the lessons that can be drawn from the successes of the liberation struggle. This is one of the ways I have found to contribute to the debate about the political instability that has plagued the country since the 1998-99 civil war. I concluded that the PAIGC, when it took control of the entire Guinean territory, did not maintain the factors that particularized it from other liberation movements: democratic dialogue with the effective involvement of the people and the spirit of mobilization of the population as it did in the Liberated Zones. It neglected the notion that the struggle for national reconstruction was also a cultural fact and a factor of culture and almost completely abandoned the tabancas where its operational and administrative structures functioned during the liberation struggle. In Bissau, the Party's civilian and military leaders renounced class suicide and embraced the charms of power with the luxury it affords (house with servants, Volvo car with driver, relatively high wages, foreign exchange), and were engulfed by the bureaucracy and the remaining middle class of the Portuguese administration. The high ranks of the armed forces, finding themselves deprecated from their function as armed militants, often leave the barracks to demand protagonism in the civil public administration. The military's activism has aggravated disputes between political parties and, as a result, destabilized the country's politics. However, Guinea-Bissau, regardless of the government in office, maintains a non-aligned and autonomous foreign policy. But, more than a tradition of the PAIGC, this policy is also due to the need for foreign aid to fund its development program.
Descrição: Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas, Florianópolis, 2023.
URI: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/254343
Data: 2023


Arquivos deste item

Arquivos Tamanho Formato Visualização
PICH0281-T.pdf 7.221Mb PDF Visualizar/Abrir

Este item aparece na(s) seguinte(s) coleção(s)

Mostrar registro completo

Buscar DSpace


Busca avançada

Navegar

Minha conta

Estatística

Compartilhar