Parteiras tradicionais: encruzilhadas entre a produção de conhecimentos indígenas, afrodiaspóricos e científico modernos

Abstract

Esta tese aborda a parte tradicional como epicentro de produção de conhecimento das partes tradicionais indígenas, quilombolas e de contextos não tradicionais situados no Nordeste brasileiro. A construção do conhecimento e da prática da parte se dá em várias dimensões, tanto subjetivas quanto de forma comunitária, a partir de um legado cultural no território da África Ladina e de Abya Yala. A hipótese apresentada é que os conhecimentos e as práticas, os músculos políticos, as redes de afetos, o cuidado e a cura das partes tradicionais, podem ser lidos como uma episteme da parteria tradicional. O objetivo desta pesquisa, então, foi compreender como as partes tradicionais constroem uma episteme, contribuindo, assim, com o alargamento da produção de conhecimento e materializando a existência da pluriversalidade, a partir das encruzilhadas entre atores nos fluxos locais/global-global/local . De natureza qualitativa e exploratório-descritiva, esta pesquisa foi realizada com auxílio de uma revisão sistemática de literatura e outras fontes interdisciplinares nas áreas de gênero, dos estudos decoloniais, étnico-raciais e do pós-colonialismo. Essas fontes referenciaram as entrevistas semi-estruturadas realizadas com sete festas tradicionais, bem como as vivências, com algumas, in loco. Mulheres são de diferentes locais, com perfis étnico-raciais e modos de aprendizagem da parteria particular, com atuações políticas e mobilizadoras semelhantes, unidas pelo dom que receberam ao nascer em parteiras. Ao longo da tese são abordadas as categorias encontradas ao longo das entrevistas e vivências com as partes, como ?conhecimento oral? e ?maternidade contínua?. São, por outro lado, abordadas características mais gerais que perpassam a maioria das suas experiências como fundamento para a produção de seus conhecimentos: ofícios além da parteria e matrizes étnicas/de raça do partejar. Estas características, bem como as categorias, intercruzam-se no dia a dia dessas mulheres, mesmo que algumas não sejam tão ativas no partejar. Com isso, é possível perceber a produção de conhecimento das partes como epicentro de toda uma dinâmica que afeta suas vidas e as pessoas de seu entorno, exercendo um apoio nas suas existências e nas suas comunidades. A educação formal e o conhecimento biomédico são desenvolvidos como peças de um jogo dúbio em suas experiências, aprendizagem e reconhecimento social. O exercício político do partejar abordado traz possibilidades de enxergarmos as formas em que as partes tradicionais, seus povos e aliados(as) no passado, no presente, com vistas ao futuro, empregam com o fim de que esse ofício resista, pois as forças coloniais coloniais a esta operação há séculos.

Abstract: This thesis addresses traditional midwifery as the epicenter of knowledge production in traditional indigenous, quilombola and non traditional contexts located in the Brazilian Northeast. The construction of knowledg e and practice of midwifery takes place in several dimensions, both subjectively and in a community way, based on a cultural legacy in the territory of Améfrica Ladina and Abya Yala. The hypothesis presented is that knowledge and practices, political artic ulations, affective networks, care and healing of traditional festivals can be read as an episteme of traditional midwifery. The objective of this research, then, is to understand how the traditional parts build an episteme, confident, therefore, with the expansion of knowledge production, and materializing the existence of pluriversality, from the crossroads between actors in the local/global global/ local. Qualitative and exploratory descriptive in nature, this research was carried out with the aid of a s ystematic literature review and other interdisciplinary sources in the areas of gender, decolonial, ethnic racial studies and post colonialism. In addition to these sources, semi structured interviews and experiences with seven traditional parts were carri ed out. These women are from different places, with ethnic racial profiles and different ways of learning midwifery, with similar political and mobilizing actions, united by the gift they receive when they are born parts. The categories found throughout th e interviews and experiences with midwives will be addressed, such as ?oral knowledge? and ?forced motherhood?. On the other hand, more general characteristics that pervade most of their experiences as a foundation for this production of knowledge will be addressed: crafts beyond midwifery and ethnic/racial matrices of midwifery. These characteristics, as well as the categories, intersect in the daily lives of these women, even if some are not as active in midwifery. With this, it is possible to perceive th e production of knowledge by the parties as the epicenter of a whole dynamic that affects their lives and those of the people around them, supporting their existence and their communities. Formal education and biomedical knowledge will be analyzed as piece s of a dubious game in their experiences, learning and social recognition. The political exercise of midwifery easily brings possibilities for us to see the political ways in which traditional midwives, their peoples and allies in the past, in the present, with a view to the future, employ in order that this profession resist, because the forces Colonial forces opposed to this have operated for centuries.