Efeito dos alcalóides pirrolizidínicos provenientes do senecio brasiliensis sobre a viabilidade espermática

Abstract

As intoxicações por plantas geram grandes perdas econômicas no setor pecuário brasileiro. Dentre elas, as causadas por ingestão de Senecio brasiliensis resultam em óbitos ou em perdas de desempenho produtivo. As principais lesões são observadas no fígado devido a transformação dos alcaloides pirrolizidínicos em pirróis, pela enzima citocromo P450. No entanto, estudos mostram que além do dano hepático a seneciose pode afetar outros órgãos devido a presença desta enzima não somente no fígado, sendo expressa também em células ovarianas e em embriões bovinos durante a fase blastocisto. Dados recentes do nosso grupo demonstram que os alcaloides derivados do Senecio sp., senecionina e senecifilina, têm efeitos tóxicos para as células da granulosa e reduzem a capacidade de desenvolvimento embrionário in vitro, sugerindo que os alcaloides pirrolizidínicos, mesmo em concentrações insuficientes para causar a seneciose, têm o potencial de afetar diretamente a função reprodutiva das fêmeas bovinas. A fim esclarecer os impactos da seneciose sobre a eficiência reprodutiva de touros, buscamos avaliar os efeitos dos dois alcaloides pirrolizidínicos mais abundantes na planta de Senecio sp., sobre a viabilidade espermática. No primeiro experimento amostras de sêmen congelado foram incubadas com Senecionina e a Seniciofilina nas concentrações de 0 (controle), 10 ng/ml e 100 ng/ml. Foram realizadas análises da motilidade progressiva e do vigor espermático as 0, 2, 4, 6, 8 e 10 h de incubação. A Senecionina levou a redução da motilidade espermática com 4 horas de incubação na dose de 100 ng/ml e o vigor teve decréscimo a partir das 6 horas. Para a Seneciofilina a redução de motilidade foi observada após 6 horas de incubação na dose máxima. O mesmo foi observado para o vigor espermático que decaiu após 6 horas de incubação. No segundo experimento foi avaliada a capacidade fecundante de espermatozoides bovinos tratados durante 4 horas com Senecionina e Seneciofilina nas doses de 0 (controle), 10 ng/ml e 100 ng/ml. Imediatamente após o período de incubação com os alcalóides o sêmen foi utilizado para a fertilização de oócitos maturados in vitro. A capacidade fecundante dos espermatozoides foi avaliada indiretamente através da avaliação da taxa de clivagem 48 horas pós fertilização e através do desenvolvimento embrionário observado 7 dias após fertilização. Ao final do experimento não foi observada diferença estatística para a taxa de clivagem entre os grupos tratados e o grupo controle. No entanto a capacidade de desenvolvimento embrionário foi prejudicada de maneira dose dependente, sendo que houve redução na produção de blastocistos nos grupos tratados com a dose de 100 ng/ml de ambos os alcaloides. Dessa forma, podemos concluir que os alcalóides provenientes do Senecio sp. são capazes de reduzir a motilidade e o vigor espermático. Além disso, reduzem a taxa de desenvolvimento embrionário em doses consideradas como subclínicas. Esses achados nos levam a crer que a seneciose subclínica tem potencial para reduzir a fertilidade do macho e os índices reprodutivos do rebanho.