Efeitos da diversidade funcional de sistemas agroflorestais sobre plantas espontâneas alimentícias e medicinais

Abstract

Um dos atuais desafios da agricultura é propor novas abordagens que conciliem o manejo ecológico das plantas espontâneas com a crescente demanda por alimentos saudáveis. Os sistemas agroflorestais (SAFs) têm demonstrado maior eficiência do que as formas convencionais de agricultura em ambos os pontos. No entanto, para o desenvolvimento correto de novas práticas de manejo, é de extrema importância entendermos qual a abundância, frequência e riqueza das espécies presentes na comunidade de plantas espontâneas e de que forma suas utilidades possam gerar contribuições para as pessoas. A seguinte pesquisa tem como objetivo identificar as plantas espontâneas, presentes em parcelas permanentes de sistemas agroflorestais sucessionais com estrutura funcional controlada experimentalmente na Fazenda Experimental da Ressacada - UFSC/Florianópolis, que apresentem utilidade alimentícia e/ou medicinal, bem como elucidar o efeito dos atributos funcionais das espécies cultivadas sobre a composição das plantas espontâneas úteis ao longo dos primeiros anos de sucessão agroflorestal. Para alcançar tal objetivo, foi realizada a revisão bibliográfica das espécies de plantas espontâneas, a fim de obter informações sobre as partes comestíveis, as formas de uso e as propriedades nutracêuticas e medicinais. Foram identificadas 37 espécies espontâneas, após levantamento fitossociológico, que possuem utilidade alimentícia e/ou medicinal ao longo dos primeiros anos de sucessão agroflorestal, sendo as folhas as partes mais consumidas, tanto para alimentação quanto para o combate a enfermidades. Já para entendermos a influência dos atributos funcionais, análises estatísticas foram feitas através de modelos lineares mistos, tendo como variáveis respostas a medida de riqueza observada e os valores de abundância relativa das espontâneas com utilidade alimentícia e medicinal, e como variáveis preditoras as coletas realizadas durante os três primeiros anos de implantação, faixas de cultivos, identidade funcional dos cultivos (CWM - Community Weighted Mean) e diversidade funcional dos cultivos (Rao). Como resultados, observamos que o aumento da diversidade funcional dos cultivos promoveu maior riqueza de espontâneas úteis, porém não teve influência sobre a abundância dessas espécies. Já em relação aos atributos funcionais isoladamente, vimos que aumento da identidade funcional dos cultivos apresentou efeito oposto ao aumento da diversidade funcional. Os cultivos agroflorestais com alta diversidade em área foliar específica (SLA) e altura máxima (H) apresentaram maior riqueza de espontâneas úteis. No entanto, os cultivos com altos valores de SLA e concentração de nitrogênio foliar (LNC) apresentaram menor riqueza de espontâneas com utilidade alimentícia e medicinal. Já os cultivos agroflorestais com alta diversidade de conteúdo de matéria seca foliar (LDMC) demonstraram um decréscimo na riqueza de espontâneas úteis ao longo do período sucessional. No que diz respeito a abundância dessas espécies úteis, a diversidade funcional dos cultivos não teve influência. Porém, cultivos agroflorestais com altos valores de SLA e LNC apresentaram menor abundância de espontâneas úteis, enquanto os cultivos com altos valores de H e LDMC apresentaram maior abundância dessas espécies. Sendo assim, a partir desses resultados, é possível compreender que a escolha de espécies através da estrutura funcional de cultivos agroflorestais pode ser uma nova abordagem que concilie o manejo de plantas espontâneas e a contribuição para a melhoria da qualidade de vida.

Abstract: One of the main challenges of modern agriculture lies is reconciling the ecological management of spontaneous plants (weeds) with the growing demand for healthy food. Agroforestry systems (SAFs) have proven to tackle both aspects of the matter in a more efficient way, compared to the traditional approaches. However, for the proper development of new management practices, it is extremely important to understand the abundance, frequency and richness of the species in the spontaneous plants? community, as well as how their use contributes to people. This study aims to identify edible and/or medicinal spontaneous plants present in the experimental agroforestry plots and elucidate the effect of the functional traits of cultivated species on the composition of useful spontaneous plants during the first years of agroforestry succession. Information on the ways to use and consume these plants, along with its nutraceutical and medicinal properties were obtained through bibliographic review. In the early succession stages, after phytosociological survey 37 spontaneous species were identified as useful, being leaves the most consumed plant part. In order to understand the influence of functional traits, statistical analyzes were carried out using mixed linear models, with the observed richness and the values of relative abundance of useful spontaneous species as response variables, where growing seasons, crop ranges, functional identity of crops (CWM ? Community Weighted Mean) and functional diversity of crops (Rao) were predictors. As a result, we observed that the increase in the functional diversity of the crops promoted greater richness of useful plants, but had no influence on its the abundance. In relation to the functional traits tested separately, the increase in the functional identity of the crops had the opposite effect to the increase in the functional diversity. Agroforestry crops with high diversity in specific leaf area (SLA) and maximum height (H) showed greater richness of useful plants, whereas crops with high values of SLA and high foliar nitrogen concentration (LNC) showed lower richness. Agroforestry crops with high diversity of leaf dry matter content (LDMC) showed a decrease in the richness of useful spontaneous species over the successional period. The functional diversity of the crops had no influence on the abundance of useful species. However, agroforestry crops with high values of SLA and LNC had a lower abundance of useful weeds, while crops with high values of H and LDMC had a higher abundance of these species. From these results it is possible to infer that the use of functional traits as criteria for agroforestry crop selection is an approach that reconciles the management of spontaneous plants with food production, contributing to improve the quality of life.