Abstract:
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Se o escrever é também uma história de quem você foi e está sendo, acho este um
bom lugar pra começar a preencher esta folha em branco em cuja brancura não posso
mais me esconder.
Ao escolher uma temática com a qual poderia trabalhar, ao longo de um
processo que tomou bastante tempo e sofreu bastante( s) transformações em foco,
deparei-me com uma dificuldade imensa para ultrapassar o grau de fascinação e
encantamento com meus objetos de pesquisa: os filmes Container (Lukas Moodysson,
2006) e, mais tarde, Blue (Derek Jarman, 1993). Encontrei ecos, vestígios daquilo por
que estava passando lendo Barthes escrever que "o que fecha assim a linguagem
amorosa é exatamente o mesmo que a instituiu: a fascinação. Pois descrever a
fascinação é coisa que não poderia jamais, no final das contas, exceder este enunciado:
'estou fascinado"' 2
. Assim sendo, fazia-se necessário que o tempo e as circunstâncias
dissipassem esse muro de encantamento que me separava do meu objeto; justamente por
eu me considerar tão próximo, colado a ele. O que se segue é, tendo em vista tudo isso,
o resultado de uma jornada declaradamente pessoal e, ainda que não verbalizado, desse
necessário movimento de sair de dentro dos filmes para poder vê-los de fora - ou pelo menos de conseguir ver neles algo que não fosse diretamente relacionado aos meus
sentimentos mais imediatos em relação a eles. Um longo processo de descobrir o que
eles estavam me falando, e como. O objeto de estudo, então, tomou-se a voz, o som. O
que une as vozes desses filmes, o que cada uma tem de particular e também qual a
(des)importância da voz, desta energia (sonora) que sai de uma determinada forma da
boca ( do corpo/dos corpos conhecidos ou não, do nada, de lugar algum, de um local
indeterminado) falando em determinados códigos conhecidos por alguns e
desconhecidos por muitos, passando uma mensagem ( ou não) que em nada garante ser
sincera, em nada garante ser ela mesma e estar condizente com sua fonte. Uma jornada
com muito mais certezas que incertezas, é certo - ao menos aí uma certeza. |