Tornando-se mães e antropólogas: uma etnografia sobre experiências que desafiam ideais de maternidade e ciência

Abstract

Este trabalho tem como objetivo compreender as relações entre maternidade e ciências, esferas da experiência social humana que historicamente têm sido percebidas como incongruentes. A partir do aporte teórico-metodológico da Antropologia Feminista e, em particular, da etnografia realizada junto a um grupo de onze antropólogas em formação que são mães, esta pesquisa examina os desafios enfrentados, as práticas e os sentidos produzidos sobre o tornar-se mãe conjugado ao tornar-se antropóloga. Das experiências de maternidade e de formação antropológica das interlocutoras emergiu a categoria analítica bem-maternar, reveladora das suas aprendizagens e das suas inventividades no processo de cultivo da sensibilidade da responsabilidade, central para o exercício da maternagem, que também atravessa o exercício antropológico. O bem-maternar, ao mesmo tempo em que desafia os significados sociais da maternidade, revela a cultura científica antropológica e seus esquemas de gênero em que a maternidade aparece como um marcador social da diferença significativo. No contexto acadêmico, este marcador articulado a outros como gênero, classe, raça e geração, produzem desigualdades. A análise propõe, assim, um novo olhar sobre o tornar-se mãe e o tornar-se antropóloga, em direção à indissociabilidade dessas duas esferas.

Abstract: This work aims to understand the relationships between motherhood and the sciences, which are spheres of human social experience that have historically been perceived as incongruous. From the theoretical-methodological contribution of feminist anthropology and, in particular, ethnography carried out with a group of eleven anthropologists in training and who are also mothers, this research examines the challenges faced, the practices and the meanings produced about becoming a mother conjugated to becoming an anthropologist. From the experiences of motherhood and anthropological training of the interlocutors emerged the analytical category well mothering, which revealed their learning and their inventiveness in the process of cultivating the sensitivity of responsibility, central to the exercising of motherhood, which also crosses over to being an anthropologist. Well mothering, while challenging the social meanings of motherhood, reveals anthropological scientific culture and its gender schemes in which motherhood appears as a social marker of significant difference. In the academic context, this marker, when articulated to others such as gender, class, race and generation, produces inequalities. The analysis thus proposes a new look at becoming a mother and becoming an anthropologist, in light of the inseparability of these two spheres.