Mulher e academia: análise sociológica do assédio como sofrimento psíquico entre estudantes da UFSC

Abstract

Este trabalho de conclusão de curso investiga o tema do sofrimento psíquico entre estudantes universitárias. A presente pesquisa tem duplo caráter: descritivo de casos de assédio sofridos na UFSC, e nesse sentido, denunciatório; e analítico da forma como as mulheres dão sentido às suas experiências de sofrimento psíquico diante da violência de gênero. Ele faz parte de um projeto mais amplo, Sofrimento Psíquico entre estudantes da UFSC. Nosso objetivo geral foi analisar a experiência de assédio moral e sexual na UFSC a partir dos relatos das estudantes de graduação e pós-graduação enquanto fenômenos experimentados como problemas individuais. Os casos ocorrem mais em relações entre estudantes mulheres e professores homens, mais velhos, revelando o poder e também a hierarquia institucional presente nos assédios abordados. Muitas das situações de assédio foram suficientes para provocar mudança de núcleo/laboratório/pesquisa pelas mulheres violentadas, evidenciando o quanto os assédios podem transformar radicalmente a vida pessoal e profissional das mulheres, principalmente quando silenciadas. Na revisão da literatura, os trabalhos acadêmicos chegam a conclusões muito similares às de nossa pesquisa no que diz respeito às características do assédio no ambiente acadêmico. O temor de denunciar, as formas de assédio e o sofrimento gerado são algumas dessas características comuns. Muitas de nossas entrevistadas também relataram situações onde o assédio sexual foi o causador de seus sofrimentos. Esta forma de violência recorrente contra mulheres é parte da dominação masculina e expressa a violência simbólica. Assim, ela se manifesta frequentemente como sofrimento individual, como sugerem as narrativas terapêuticas de autoajuda, porém é urgente a mobilização de políticas públicas que desvendem seu caráter social e coletivo.

This course conclusion work investigates the topic of psychological distress among university students. The present research has a double character: descriptive of cases of harassment suffered at UFSC, and in this sense, denunciatory; and analytical of the way in which women give meaning to their experiences of psychological suffering in the face of gender violence. It is part of a broader project, Psychic Suffering among UFSC students. Our general objective was to analyze the experience of moral and sexual harassment at UFSC from the reports of undergraduate and graduate students as phenomena experienced as individual problems. The cases occur more frequently in relationships between a female student and an older male teacher, revealing the power and also the institutional hierarchy present in the harassment addressed. Many of these harassment situations became relevant factors for the changing of nucleus/laboratory/research by the women who were violated, showing how harassment can radically transform women's personal and professional lives, especially when silenced. In literature review, academic works reach conclusions that are very similar to those of our research with regard to their characteristics in the academic environment. The fear of reporting, the ways in which harassment is presented and the suffering generated are some of these common characteristics. Many of our interviewees also reported situations where sexual harassment was the cause of their suffering. This kind of recurrent violence against women is part of maculine domination and expresses symbolic violence. Thus, even if it frequently manifests as individual suffering, as the therapeutic self-help narratives suggest, it is imperative the mobilization of public policies that reveal its social and collective character.