Narrativas e práticas feministas de(s)colonizadoras no Manual de Introdução à Ginecologia Natural

Abstract

Esta pesquisa analisa o livro Manual de Introdução à Ginecologia Natural (Projeto Ginecosofia), da autora chilena Pabla Pérez San Martín, a partir das elaborações teóricas e práticas dos feminismos de(s)coloniais. Inicialmente, por meio do método genealógico, pretendi historicizar as influências das principais instituições ocidentais ? Igreja, ciência e capitalismo ? na saúde sexual das mulheres. Depois, considerando as imbricações entre gênero, raça, sexualidade e geopolítica na construção de projetos corporais, busquei desvelar os possíveis impactos da invasão colonial e das hierarquizações eurocêntricas impostas em Abya Yala no controle dos corpos das mulheres. Nas análises, a leitura da proposta ético-política do Projeto Ginecosofia (PG) e do Manual de Introdução à Ginecologia Natural (MIGN) permitiu formular a compreensão dos corpos das mulheres latino-americanas não apenas em sua dimensão biológica/moralista, como determinado pela racionalidade científica moderna, mas sobretudo enquanto territórios políticos, marcados simbólica e carnalmente pela colonialidade. Além de problematizar o monopólio da ginecologia pela medicina moderna, o material pesquisado se mostra uma importante ferramenta de luta contra as práticas e narrativas de base colonial, essencialmente patriarcais e racistas, que assombram o presente e são constantemente reatualizadas.

Abstract: This research analyzes the book Manual de Introdução à Ginecologia Natural (Projeto Ginecosofia), by the Chilean author Pabla Pérez San Martín, from the theoretical and practical elaborations of (de)colonial feminisms. Initially, through the genealogical method, I intended to historicize the influences of the main Western institutions ? Church, science and capitalism ? on women's sexual health. Then, considering the imbrications among gender, race, sexuality and geopolitics in the construction of body projects, I sought to unveil the possible impacts of the colonial invasion and the Eurocentric hierarchies imposed in Abya Yala on the control of women's bodies. In the analyses, the reading of the ethical-political proposal of Projeto Ginecosofia and Manual de Introdução à Ginecologia Natural allowed us to formulate the understanding of the bodies of Latin American women not only in their biological/moralistic dimension, as determined by modern scientific rationality, but above all as political territories, symbolically and physically marked by coloniality. In addition to problematizing the monopoly of gynecology by modern medicine, the researched material proves to be an important tool in the struggle against colonial-based practices and narratives, essentially patriarchal and racist, which haunt the present and are constantly updated.