O brincar e a subjetividade: uma análise da hierarquia e do binarismo

Abstract

O presente trabalho tem como objetivo investigar o ato de brincar e sua importância para a constituição subjetiva considerando as incidências da hierarquia e do binarismo. Entende-se que o ato de brincar foi desqualificado conforme os pressupostos hegemônicos nos modos de conhecer e subjetivar presentes na modernidade ocidental. Também entende-se que, na sociedade ocidental atual, o binarismo e a hierarquia configuram pressupostos que sustentam a heteronorma e atribuem a pessoas normas sobre como brincar e quais brinquedos e brincadeiras seriam destinados a meninos e meninas. Para desenvolver esta pesquisa, recorreu-se a leituras e análises de produções acadêmicas e de documentários sobre o brincar e sobre a criança, procurando demonstrar a importância do brincar na constituição subjetiva posta em autores e autoras de diversas áreas do conhecimento. Recorreu-se também à leitura e análise de textos da teoria psicanalítica, problematizando-se hierarquias e binarismos presentes em obras de Freud e Lacan, bem como de psicanalistas contemporâneos, focando-se principalmente no que diz respeito à diferença sexual e de gênero. As referências utilizadas na análise das produções acadêmicas e dos documentários se associam à psicanálise, considerando o conceito de transferência, somadas às referências do pós-estruturalismo, conforme os conceitos de heteronorma, hierarquia e binarismo. Como considerações finais, aponta-se que, no cenário atual, há maior valorização do brincar e da criança, principalmente no âmbito dos direitos constitucionais, da pedagogia, da psicologia e de estudos da área da infância. Porém, paradoxalmente, há uma desvalorização do brincar em detrimento de outras atividades que permeiam a vida infantil. Também há um desejo adultocêntrico de que o brincar necessita estar em acordo com a heteronorma, o que nem sempre é possível para as crianças, já que um dos principais elementos do brincar é a potência de subversão dos valores normativos culturais.

Abstract: The present work aims to investigate the act of playing and its importance for the subjective constitution considering the incidences of hierarchy and binarism. It is understood that the act of playing was disqualified according to the hegemonic assumptions in the ways of knowing and subjectifying present in Western modernity. It is also understood that, in today's Western society, binarism and hierarchy configure assumptions that support the heteronorm and attribute norms to people about how to play and which toys and games are intended for boys and girls. To develop this research, reading and analysis of academic productions and documentaries regarding playing and childhood were used, trying to demonstrate the importance of playing in the subjective constitution as put by authors from different areas of knowledge. We also resorted to the reading and analysis of texts in psychoanalytic theory, problematizing hierarchies and binarisms present in the works by Freud and Lacan, as well as contemporary psychoanalysts, focusing mainly on sex and gender differences. The references used in the analysis of academic productions and documentaries are associated with psychoanalysis, considering the concept of transference, added to the references of poststructuralism, according to the concepts of heteronorm, hierarchy and binarism. As final considerations it is pointed out that, in the current scenario, there is a greater appreciation of playing and children, especially in the context of constitutional rights, pedagogy, psychology and studies in the area of childhood. However, paradoxically, there is a devaluation of playing at the expense of other activities that permeate children's life. There is also an adult-centric desire that play needs to be in accordance with the heteronorm, which is not always possible for children, since one of the main elements of play is the subversion power of cultural normative values.