Odontologia surda: dificuldades enfrentadas pela pessoa com surdez no atendimento odontológico e como superá-las.

Abstract

Introdução: A comunidade surda ao procurar os serviços de saúde e, dentre eles, os atendimentos odontológicos, ainda se depara com serviços e profissionais despreparados em oferecer um atendimento acessível e integral. Como paciente odontológico, a barreira da comunicação se impõe ao surdo refletindo em um menor vínculo paciente-dentista, atendimentos incompletos e/ou pouco resolutivos, e impossibilidade de autonomia do surdo sobre seu processo saúde-doença. Objetivo: Discutir a percepção dos pacientes com surdez em relação ao atendimento odontológico. Metodologia: Trata-se de um estudo transversal de abordagem qualitativa no qual foram entrevistadas 17 pessoas da comunidade surda ligadas à Associação de Surdos da Grande Florianópolis. A coleta de dados se deu através da aplicação de um roteiro de entrevista e posterior transcrição e análise de conteúdo dos relatos. Resultados: Os participantes se identificam como surdos em sua maioria e não se consideram deficientes ou pacientes especiais, mas sim pessoas que precisam de um atendimento adaptado às suas especificidades. Ampla maioria compreende a importância de buscar atendimento odontológico, dizem procurá-lo com frequência e a princípio constatam ter autonomia e segurança nos atendimentos que receberam. No entanto, ao serem questionados sobre a comunicação com o profissional, consideram que ser surdo provoca um tratamento negativo pelo dentista. Além disso, a Libras não é conhecida pelo profissional e não há a presença do intérprete, causando a dependência de amigos ou parentes para fazer a interpretação. Por fim, a maioria declara ter dificuldade de comunicação durante o atendimento, o que os leva a não se sentirem compreendidos e nem compreenderem o dentista. Conclusão: As barreiras na comunicação, aliadas à falta de capacitação profissional e desconhecimento da cultura surda, ainda são uma realidade no contexto da saúde bucal das pessoas com surdez.

Introduction: The deaf community when seeking health services and, among them, dental care, still faces services and professionals unprepared to offer accessible and comprehensive care. As a dental patient, the communication barrier imposes itself on the deaf reflecting in a lower patient-dentist bond, incomplete care and/or unresolved, and the impossibility of deaf autonomy over their health-disease process. Objective: To discuss the perception of patients with deafness in relation to dental care. Methodology: This is a cross-sectional study of qualitative approach in which 17 people from the deaf community were interviewed. They all were linked to the Associação de Surdos da Grande Florianópolis, an Association. Data collection took place through the application of an interview script and subsequent transcription and analysis of the reports. Results: The participants identify themselves as deaf in their majority and do not consider themselves disabled or special patients, but people who need a care adapted to their specificities. A large majority understands the importance of seeking dental care, they say they seek it often and at first they confirmed to have autonomy and security in the care they received. However, when asked about communication with the professional they consider that being deaf causes a negative treatment by the dentist. Moreover, Libras is not known by the professional and there is no presence of an interpreter, causing dependence on friends or relatives to make the interpretation Finally, the majority stated that they had communication difficulties during the appointment, which made them feel neither understood by the dentist nor do they understand him. Conclusion: The communication barriers, associated with the lack of professional training and ignorance of deaf culture, are still a reality in the context of oral health of people with deafness.