Abstract:
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Æmulatio, ou “emulação”, é um conceito que descreve uma disputa por primazia poética em que o êmulo trabalha em igualar ou superar na qualidade poética o modelo que elege como alvo da competição. O objetivo deste trabalho é analisar a emulação presente n’Os Lusíadas, de Camões, em relação à Eneida, de Virgílio. Para isso, invocam-se referenciais teóricos que ajudam a descrever o contexto renascentista de que Os Lusíadas participa e conceitos ligados esse contexto, como “imitatio” [“imitação”] e “æmulatio” [“emulação”]. Com esses conceitos, procede-se a uma comparação de partes selecionadas dos dois poemas procurando sugerir aquilo do poema virgiliano que é o objeto exato da emulação, os recursos de linguagem e semânticos empregados por meio dos quais a emulação é feita e, finalmente, a síntese do significado produzido n’Os Lusíadas pela emulação, a partir do recorte de partes definido. Para resumir a conclusão em algumas palavras, o narrador de Camões declara estar em posse de uma matéria poética verdadeira, logo superior: a história sacra dos feitos dos “barões assinalados” orientados pela providencialidade de Deus, em oposição aos feitos de Eneias orientados pelo mito pagão, que declara falsos; isto ora é expresso por artifícios e figuras de linguagem como a hipérbole, ora pelo tratamento irônico dado aos deuses greco-latinos no poema de Camões; e o sentido que a emulação gera é uma apoteose da nação portuguesa e da sua história, inigualável, pois de maior excelência que a própria fundação de Roma. |