Resumo:
|
Indivíduos com doença arterial obstrutiva periférica podem ter importantes restrições na
realização de suas tarefas da vida diária, pois a doença manifestada de forma sintomática está
fortemente associada à redução da capacidade de locomoção do paciente. O presente estudo
teve como objetivo investigar a correlação entre a capacidade de locomoção e as variáveis
clínicas em indivíduos com doença arterial obstrutiva periférica. Para isso, foi realizado um
estudo transversal com pacientes com doença arterial obstrutiva periférica, recrutados do
ambulatório vascular do Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago da
Universidade Federal de Santa Catarina – HU/UFSC. A coleta de dados ocorreu de setembro
à novembro de 2020, por meio de questionário e prontuário médico dos pacientes. A
capacidade de locomoção foi determinada pelo Walking Impairment Questionnaire (WIQ),
composto por três domínios: distância de caminhada, velocidade de caminhada e capacidade
de subir escadas. A partir dele, é obtido uma pontuação para cada domínio, que pode variar de
0 (incapacidade de realizar as tarefas) a 100 (nenhuma dificuldade para realizar a tarefa. O
Questionário de Claudicação de Edimburgo foi utilizado para avaliar a presença de
claudicação intermitente, o local acometido e em que situação a dor se manifesta. Já as
variáveis clínicas utilizadas foram o tempo de diagnóstico e grau de gravidade da doença,
obtidas a partir de consulta aos prontuários médicos. A análise de dados foi realizada no
programa Stata, versão 13.0. A estatística incluiu o uso de frequências absoluta, relativa (%),
média, desvio padrão e correlação de Spearman. O presente estudo foi submetido e aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa
Catarina, sob o parecer de número 3.971.967. Participaram do estudo 33 indivíduos com
média de idade de 64,7 (±7,7) anos. A maioria dos entrevistados eram do sexo masculino
(69,7%), tinham excesso de peso (51,5%) e também possuíam hipertensão arterial (72,7%).
Quanto à capacidade de locomoção, as médias de pontos para a distância de caminhada,
velocidade de caminhada e capacidade de subir escadas foram, respectivamente, de 24,6
(±19,8), 31,0 (±13,2) e 42,8 (±24,2). No caso das variáveis clínicas relacionadas à doença
arterial obstrutiva periférica, 24,2% dos pacientes tiveram o diagnóstico da doença há ≥ 6
anos, 63,6% já tinham feito cirurgia de revascularização e 90,9% relataram sentir algum
sintoma de claudicação intermitente ao deambular, que desaparece após 10 minutos de
repouso. Um total de 56,7% dos pacientes apresentou dores somente na região das
panturrilhas, 26,7% em panturrilhas e coxas e 16,6% em panturrilhas, coxas e glúteos. Houve
correlação positiva forte entre distância e velocidade de caminhada (r=0.7924). A capacidade
de subir escadas apresentou correlação positiva forte com a distância de caminhada
(r=0.6745) e velocidade de caminhada (r=0.8234). O tempo de diagnóstico da doença
apresentou correlações negativas fracas com a distância (r=-0.1607) e velocidade de
caminhada (-0.1051) e com a gravidade da doença (r=-0.1420), e correlação positiva fraca
com a capacidade de subir escadas (r=0.1994). A gravidade da doença apresentou correlação
negativa forte com os indicadores de capacidade de locomoção: distância de caminhada (r=-
0.6799), velocidade de caminhada (r=-0.7078) e subir escadas (r=-0.5391). Conclui-se que, os
pacientes com doença arterial obstrutiva periférica apresentam prejuízos nos domínios da
capacidade de locomoção, os quais apresentam importantes correlações entre si, mas também
com o grau de gravidade da doença. Esses achados ratificam as importantes implicações da
doença arterial obstrutiva periférica nos deslocamentos e, consequentemente, na realização
das atividades de vida diária. |