Avaliação econômica do tratamento da artrite reumatoide no componente especializado da assistência farmacêutica: utilização de recursos e qualidade de vida

Abstract

A artrite reumatoide é uma doença crônica autoimune, que interfere negativamente na qualidade de vida dos indivíduos por ela acometidos, e é responsável por um impacto econômico significativo. O objetivo do tratamento é controlar a inflamação, reduzir a dor, impedir a progressão da doença e o dano estrutural, preservar a capacidade funcional e melhorar a qualidade de vida. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi estimar os custos e a qualidade de vida relacionados à artrite reumatoide, em indivíduos atendidos por meio do Componente Especializado de Assistência Farmacêutica (CEAF), sob a perspectiva da sociedade. A quantificação dos recursos consumidos foi realizada a partir da técnica de microcusteio, por meio de um estudo observacional e prospectivo. Foram incluídos no estudo indivíduos adultos (idade = 18 anos), de ambos os sexos, com diagnóstico de artrite reumatoide, residentes em Florianópolis/SC, e cadastrados no CEAF para receber qualquer um dos medicamentos padronizados para o tratamento desta doença. A coleta de dados foi conduzida na Farmácia Escola da UFSC/PMF, por intermédio de entrevistas bimestrais, no momento da dispensação dos medicamentos, durante 12 meses. Para valoração de recursos consumidos, foram utilizados métodos contábeis; custos unitários padrão (sistema de dados oficiais); remunerações e preços de mercado. Os custos indiretos foram estimados a partir do método do capital humano, utilizando a renda domiciliar per capita do estado de Santa Catarina. Os custos foram estimados para o ano de 2016 e na moeda nacional (Real). A qualidade de vida foi estimada, utilizando a versão 1 do Medical Outcomes Study 36 item short form survey® (SF-36v1TM), e do Health Assessment Questionnaire (HAQ). Os resultados obtidos foram analisados no editor de planilhas Microsoft Office Excel®, versão 2016, e a análise estatística foi realizada no Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) 18.0. Os escores do SF-36v1TM foram calculados por meio do QualityMetric Health Outcomes(tm) Scoring Software 5.0, e os do HAQ foram calculados manualmente. Foram acompanhados, durante os 12 meses, 167 indivíduos, em sua maioria, do sexo feminino (86,2%), com idade superior a 50 anos (80,2%), escolaridade igual ou superior a 10 anos (61,1%), beneficiários de planos de saúde privados (67,1%), 10 anos ou menos de diagnóstico (52,7%), e em uso de Medicamentos Modificadores do Curso da Doença (MMCD) biológicos em monoterapia ou associados a MMCD sintéticos (58,7%). As principais fontes pagadoras detectadas foram: subsetor público; subsetor privado; e subsetor da saúde suplementar. O custo total do tratamento da artrite reumatoide nesse período foi de R$ 3.461.850,35, correspondendo a um custo médio de R$ 20.729,64 (DP=19.627,70) por indivíduo/ano. O custo médio constituiu 68,2% do Produto Interno Bruto per capita, estimado para o ano de 2016. Os custos diretos corresponderam a 95,8% do custo total e o subsetor público foi responsável por 58,6%. O tratamento farmacológico contribuiu com 65,5% custo direto total, sendo que o custo com MMCD biológicos correspondeu a 79,4% deste valor, as hospitalizações contribuíram com 12,2%, os exames com 5,8% e o tratamento não farmacológico com 5,2%. Os demais itens juntos corresponderam a 11,3% do total. A estimativa da qualidade de vida foi realizada para 161 indivíduos, os quais apresentaram incapacidade leve a moderada (HAQ=0,9, DP=0,6) e maior comprometimento nos domínios aspectos físicos (40,0, DP=35,6) e os aspectos emocionais (47,9, DP=35,4) do SF36v1TM. Os indivíduos com artrite reumatoide apresentaram qualidade de vida inferior à da população geral, sendo que, nos domínios capacidade funcional e aspectos físicos, o tamanho de efeito encontrado foi grande (-1,6 e -1,0, respectivamente). Não houve correlação significativa entre os escores médios de qualidade de vida e o custo total. Correlações significativas pontuais foram encontradas somente na análise das variáveis escolaridade, esquema terapêutico e etapa da estratégia terapêutica. Indivíduos em uso de MMCD biológicos associados a sintéticos apresentaram correlação significativa positiva nos domínios dor e estado geral de saúde do SF36v1TM, e negativa no HAQ. O presente estudo resultou em informações relevantes sobre a utilização de recursos, os custos e a qualidade de vida referentes a indivíduos com artrite reumatoide, as quais poderão contribuir para a execução de ações que visem minimizar o impacto econômico ocasionado e melhorar a assistência e a qualidade de vida dos indivíduos.

Abstract : Rheumatoid arthritis is a chronic autoimmune disease that negatively interferes in the quality of life of affected individuals and represents a significant economic impact. The treatment is intended to control inflammation, reduce pain, prevent disease progression and structural damage, preserve functional capacity and improve quality of life. In this context, this doctoral dissertation aims to carry out a cost-consequence analysis of the treatment for rheumatoid arthritis in individuals assisted by the Specialized Component of Pharmaceutical Assistance (CEAF), from a society s perspective. The consumed resources were quantified using the micro-costing technique in an observational and prospective study. The study included male and female adults (age = 18 years) diagnosed with rheumatoid arthritis living in the city of Florianópolis, Brazil, enrolled in the CEAF and entitled to receive any of the standardized medicines for the treatment of the disease. Data were collected through face-to-face interviews every two months, for a year, on the day scheduled for the medicine dispensation at the University Pharmacy, which is a partnership between the Federal University of Santa Catarina (UFSC) and the Florianópolis City Hall (PMF). For the appraisal of consumed resources, the following accounting methods were used: standard cost per unit (official data system); remuneration and market pricing. Indirect costs were estimated using the human capital method, based on the per capita household income in the state of Santa Catarina, Brazil. The costs were estimated for the year 2016 and in the Brazilian currency (Real). Quality of life was estimated using version 1 of the Medical Outcomes Study 36 item short form survey® (SF-36v1TM), and the Health Assessment Questionnaire (HAQ). The results were analyzed in the spreadsheet editor Microsoft Office Excel® 2016, and the statistical analysis was performed in the Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) 18.0. The SF-36v1TM scores were calculated using the QualityMetric Health Outcomes(tm) Scoring Software 5.0, and the HAQ scores were calculated manually. The 12-month follow-up included 167 individuals whose profile comprised mostly female adults (86.2%), over 50 years old (80.2%), 10 years of schooling (61.1%), beneficiaries of private health insurance plans (67.1%), within 10 years or less of diagnosis (52.7%), and under use of biological Disease-Modifying Antirheumatic Drugs (DMARD) in monotherapy or associated with synthetic DMARD (58.7%). The three main paying sources identified were: the public subsector; the private subsector; and the supplementary healthcare subsector. The total cost of treating rheumatoid arthritis in the studied period was R$ 3,461,850.35, which corresponds to an average cost of R$ 20,729.64 (SD=19,627.70) per individual/year. The average cost was 68.2% of GDP per capita estimated for the year 2016. Direct costs corresponded to 95.8% of the total cost and the public subsector accounted for 58.6%. Pharmacological treatments represented 65.5% of the total direct cost, and the cost of biological DMARD corresponded to 79.4% of this value; hospitalizations accounted for 12.2%, tests 5.8%, and non-pharmacological treatments 5.2%. The other components together corresponded to 11.3% of the total. Quality of life was estimated in 161 individuals with mild to moderate disability (HAQ=0.9, SD=0.6) and greater impairment in the domains physical health (40.0, SD=35.6) and emotional well-being (47.9, SD=35.4) of the SF36v1TM . Individuals with rheumatoid arthritis had a lower quality of life in comparison to the general population, and in the domains physical functioning and physical health the effect size was large (-1.6 and -1.0, respectively). There was no significant correlation between mean quality-of-life scores and total cost. Significant correlations were found only in the analysis of the variables of schooling, therapeutic regimen, and stage of the therapeutic strategy. Individuals using biological DMARD associated with synthetic ones had a significant positive correlation in the domains bodily pain and general health of the SF36v1TM, and negative in the HAQ. Finally, this study produced relevant knowledge about the use of resources, quality of life and costs regarding individuals with rheumatoid arthritis, which may contribute to the implementation of actions aimed at minimizing the economic impact thereof and improving the quality of life and health care of affected individuals.