Associação entre a exposição a agrotóxicos e o desenvolvimento da doença de Parkinson: ênfase na hipótese da vetorização olfatória

Abstract

Os agrotóxicos são considerados como fatores de risco para a saúde humana. O uso indiscriminado e a exposição frequente a estes produtos tornaram-se um problema de saúde pública em diversos países, incluindo o Brasil, devido às sérias consequências que podem implicar a saúde da população em geral, especialmente para os trabalhadores rurais que apresentam maior exposição. Alguns estudos experimentais e epidemiológicos relatam associação positiva entre a exposição a agrotóxicos, incluindo herbicidas, inseticidas e fungicidas, e o desenvolvimento da doença de Parkinson (DP), principalmente através da exposição ocupacional e ambiental. Apesar da etiologia primária da DP permanecer desconhecida, existe uma vasta literatura acerca dos fatores de risco e das bases neuropatológicas e neuroquímicas dessa doença. A predisposição genética e o envelhecimento são alguns fatores de risco relacionados à DP. Entretanto, propõe-se que seja uma etiologia multifatorial envolvendo a interação de fatores genéticos, o envelhecimento e alguns fatores de risco (traumatismo craniano, doenças infecciosas e exposição a xenobióticos), que associados contribuem para o seu desenvolvimento. Nos últimos anos, um número crescente de evidências tem indicado que a exposição a determinados agrotóxicos que são utilizados na agricultura está associada com o maior risco de desenvolvimento da DP. Estes agrotóxicos poderiam ter acesso ao sistema nervoso central (SNC) através do sistema olfatório, sendo esta conhecida como a hipótese da vetorização olfatória. O presente trabalho consiste em uma revisão bibliográfica dos estudos epidemiológicos e clínicos realizados no Brasil e em outros países avaliando as evidências científicas da associação entre a exposição aos agrotóxicos e o risco do desenvolvimento da DP, com ênfase na hipótese da vetorização olfatória.

Abstract : Pesticides are considered as environmental risk factors for human health. The widely and indiscriminate use of these compounds became a public health problem in several countries, including Brazil, due to the deleterious consequences that they can induce to the population health, especially for the rural workers who have high exposure to agricultural chemicals. Some experimental and epidemiological studies report a positive association between exposure to agrochemicals, including herbicides, insecticides and fungicides, and the development of Parkinson's disease (PD), mainly through occupational and environmental exposure. Although the primary etiology of PD remains unknown, there is a large literature on the risk factors and neuropathological and neurochemical bases of this disease. Genetic predisposition and aging are some risk factors related to PD. However, it is proposed that it is a multifactorial etiology involving the interaction of genetic factors, aging and some risk factors (head trauma, infectious diseases and exposure to xenobiotics), which contribute to its development. In recent years, increasing evidence has indicated that exposure to certain pesticides used in agriculture is associated with the increased risk of developing PD. These pesticides could have access to the central nervous system (CNS) through the olfactory system, which is known as the olfactory vectorization hypothesis. The present work consists of a bibliographical review of the epidemiological and clinical studies carried out in Brazil and in other countries, evaluating the scientific evidence of the association between exposure to pesticides and the risk of PD development, with emphasis on the olfactory vectorization hypothesis.