Abstract:
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O indivíduo moderno diz "tenho um corpo" e realiza, com esta afirmação, três operações. Por um lado, põe o corpo como um objeto, do qual se apropria como um produto da mente que pensa. Por outro lado, realiza um deslocamento metafísico do eu, ao situá-lo fora do corpo que diz possuir. Finalmente, estabelece, entre esse eu que fala e o corpo que se torna objeto, uma relação que é de apropriação. Esta pesquisa indaga os fundamentos que permitem ao indivíduo afirmar a seu corpo como uma propriedade, assim como em certos efeitos e formas que toma essa relação do sujeito consigo mesmo no mundo moderno. A propriedade do corpo, que à primeira vista exige uma divisão no sujeito, funciona a sua vez como fonte de todo direito e propriedade ulterior, tal como começa a configurar-se a partir das doutrinas jusnaturalistas. A universalização do sujeito de direito e a universalização da condição de proprietário, foram solidárias com a configuração da modernidade e, especificamente, com a da força de trabalho como propriedade inalienável do trabalhador assalariado. Contudo, ao considerar ao sujeito como efeito de linguagem, se põe em questão essa apropriação imaginária do corpo e permite discutir certos efeitos dessa relação naturalizada entre corpo, direito e propriedade que teve importantes efeitos na política moderna e contemporânea. |