Abstract:
|
JUSTIFICATIVA: Na atenção à saúde de crianças e adolescentes os profissionais se deparam com problemas éticos complexos, muitos deles específicos do contexto pediátrico e que requerem competência na tomada de decisões. O ensino médico deve capacitar os estudantes para lidar com problemas éticos que emergem dos diferentes ambientes de ensino e assistência. OBJETIVOS: Geral: conhecer e analisar problemas éticos vivenciados por médicos atuantes em assistência e ensino em pediatria e que desenvolvem atividades profissionais em hospitais de ensino e ambulatórios de atenção básica. Específicos: identificar os principais problemas éticos vivenciados pelos participantes do estudo; descrever como esses médicos lidam com problemas éticos, verificando a frequência dos âmbitos dos problemas elencados, as reações emocionais nessas vivências, os subsídios utilizados na tomada de decisão, encaminhamentos dados e ajudas recebidas; explorar associações entre problemas éticos, atividade profissional e local de trabalho; relacionar e analisar estratégias sugeridas para melhor abordar problemas éticos; apontar temas relacionados que possam ser previstos na educação médica em pediatria. DESENHO DO ESTUDO: Estudo de abordagem mista: quantitativo - transversal, descritivo, inferencial, e qualitativo exploratório-descritivo. PARTICIPANTES E MÉTODOS: 88 dos 173 médicos com atividades de ensino e assistência em pediatria participaram do estudo: 72 trabalhavam em 2 hospitais de ensino e 16 em unidades básicas de saúde. 74 eram pediatras (16 gerais e 58 especialistas) e 14 eram médicos de família. Na coleta de dados utilizou-se questionário semiestruturado autoaplicado, com variáveis sócio-demográficas, questões abertas sobre problemas éticos vivenciados no atendimento de crianças e adolescentes, e estratégias para melhor abordá-los. Análise de conteúdo foi utilizada na exploração qualitativa dos dados. As categorias dos problemas éticos e demais variáveis foram analisadas descritivamente. Regressão de Poisson explorou associações entre local de trabalho, especialidade e atividade profissional. RESULTADOS: Os 210 problemas éticos relatados envolveram cinco âmbitos: relação médico-paciente-família (29%), cuidados de final de vida (26,2%), condutas de profissionais de saúde (23,8%), contexto social e políticas de saúde (14,8%) e relações pedagógicas em pediatria (6,2). Médicos atuantes em hospitais [RP=3,75 (IC=1,44 - 9,79)], em pediatria [RP=2,82 (IC=1,06 - 7,52)], e pediatras especialistas [RP=2,97 (IC=1,12 - 7,88)] relataram mais problemas éticos quando comparados com os da atenção básica e de família. Pediatras gerais [RP=0,35 (IC=0,14 - 0,85)] e especialistas [RP=0,3 (IC=0,09 - 0,98)] relataram menos problemas do âmbito social e de políticas de saúde do que médicos de família. Médicos de família não relataram problemas no âmbito dos cuidados de final de vida. A estratégia mais sugerida relacionou-se ao ensino ética e bioética baseado em problemas cotidianos, da graduação à atuação profissional. CONCLUSÃO: Existem problemas éticos específicos de determinados ambientes educacionais, como os envolvendo cuidados de final de vida, associados ao ambiente hospitalar e os relacionados ao contexto social e políticas de saúde, que ocorrem predominantemente na atenção básica. Outros perpassam todo contexto educacional e assistencial em pediatria e dizem respeito à relação médico-paciente-família, às relações interprofissionais e ao ensino. Das estratégias sugeridas ressaltam-se atividades de educação em ética. Este conhecimento prático pode contribuir no planejamento e execução de ações de ensino da ética/bioética em pediatria. |