Abstract:
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Florianópolis iniciava seu processo de urbanização durante os anos 1950 quando algumas famílias oriundas do Alto Biguaçu (região próxima a Florianópolis, atual município de Antônio Carlos) estabeleceram residência no Morro da Caixa d'Água, localidade próxima ao centro da capital do estado de Santa Catarina. Naquele momento, a cidade mostrava-se dividida politicamente entre os dois maiores partidos políticos catarinenses: o Partido Social Democrático (PSD), comandado pela oligarquia Ramos, e a União Democrática Nacional (UDN), representada pela família Konder-Bornhausen. À medida que os jornais dedicavam mais espaço para cobrir os embates políticos e informar sobre os empreendimentos imobiliários que passavam a crescer na cidade, emergiam os grupos populares, artífices da urbanização e "modernização" em seus ofícios de pedreiros, carpinteiros, construtores de ruas e prédios. A construção da cidade de Florianópolis, portanto, está envolvida numa complexa rede de relações na qual interagem trabalhadores, grupos políticos, instituições. Os sonhos de explorar um suposto potencial turístico e as disputas pelo controle, permeados pelos discursos desenvolvimentistas e de solidarismo social vinculados após a II Guerra Mundial, fomentaram uma "cultura assistencial" em Florianópolis que procurava perceber as classes populares como destinatários da caridade dos mais abastados. Distribuição de alimentos, doação de cobertores eram algumas das ações assistenciais capitaneadas por instituições religiosas, esposas de políticos e personalidades notórias da cidade. Entretanto, os grupos empobrecidos não se portavam como espectadores passivos desta conjuntura. A própria noção de "cultura assistencial" implica a perspectiva de que os atos de caridade se transformavam em uma arena de negociação onde as deferências, assim como a extensão dos benefícios, eram continuamente negociadas. Dessa forma, procurou-se, neste trabalho analisar os espaços de sociabilidade construídos pelos moradores do Morro da Caixa d'Água, seja no trabalho, nas fontes onde se lavavam roupas, nos mutirões para construção das casas dos novos moradores, nas festas religiosas, percebendo as relações com as questões urbanas da capital do estado e as conexões com o contexto estadual e nacional. |