Abstract:
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Há uma preocupação mundial com o tema riscos naturais. No Brasil, assim como em outros países com fortes desigualdades sociais, os deslizamentos estão entre aqueles de maior frequência. O objetivo do presente trabalho é compreender os deslizamentos, a partir dos aspectos naturais e sociais que compõem a paisagem e o lugar, interpretando como as pessoas se comportam frente a esse tipo de risco. O município de Blumenau, onde se situa a sub-bacia estudada, é freqüentemente lembrado pelas enchentes que causam sérios danos à população. Predominando um relevo acidentado, Blumenau a partir da década de 70 tem apresentado um forte crescimento populacional e demanda por moradias, com a ocupação das encostas, geralmente associada à formação de áreas de exclusão social, potencializando os riscos de deslizamentos. A área estudada como exemplo é a Sub-bacia do Ribeirão Araranguá, a qual possui várias características físicas e sociais, semelhantes a outras áreas de risco. Localizada na parte sul do município, embora próxima ao centro urbano, é uma área de exclusão social e com grande incidência de deslizamentos. Com relação aos aspectos físicos, há predomínio de declividades acentuadas, que associadas à forma de ocupação do solo, resultam em áreas de alta e moderada suscetibilidade a deslizamentos, geralmente reincidentes. Chuvas acumuladas de três a quatro dias mostram uma tendência maior na influência dos desastres, que predominam nos meses de março e outubro. A "comunidade do Beco Araranguá", como é conhecida contava com 5.448 habitantes em dezembro de 2002, podendo-se constatar um crescimento populacional de 10% entre os anos 2001 e 2002. Aproximadamente 60% dos moradores possui apenas o ensino fundamental ou parte dele, desenvolvendo atividades típicas do setor informal e àquelas de baixa qualificação profissional, com uma renda em geral entre um a três salários mínimos. Em função dos baixos salários o acesso à moradia é limitado, visto que nas áreas planas, o valor da terra é em geral seis vezes maior. Isto tem levado à compra de terreno irregular, construção em lote de parente ou ocupação de áreas públicas, geralmente caracterizadas por áreas de risco. O relevo acidentado, associado ao cotidiano da comunidade configura lugares diferenciados que passam desapercebidos pelos olhares daqueles que não convivem na comunidade. Constatou-se que a comunidade percebe o risco de deslizamento, pois reconhece os danos e os fatores que o condicionam ou o potencializam. Porém, tendem a negar a ocorrência do risco como forma de afastar a incerteza do perigo em seu lugar de moradia. Valores sociais como a obtenção da casa própria e as relações sociais (famílias, amigos, vizinhos), tendem a ser mais importantes na representação do lugar. As ações para se evitar os deslizamentos são poucas e restringem-se de modo geral às medidas estruturais e individuais, como a construção de muros de arrimo. Deve-se incentivar estratégias de reorganização popular através de trabalhos entre distintos profissionais e população para que a comunidade alcance sua autonomia para enfrentar os riscos. Os agentes de saúde, enquanto membros da comunidade, devem promover práticas permanentes para prever e enfrentar os desastres. |