dc.description.abstract |
Como um campo interdisciplinar de investigação, os estudos de gênero incorporam as contribuições das mais diferentes áreas do conhecimento científico. A psicologia, uma das ciências que atuam nesse campo, tem apresentado análises que permitem o avanço da compreensão das questões subjetivas e sociais associadas ao gênero como categoria relevante para o estudo da constituição do sujeito e da ordem social (Scott, 1990). O objetivo dessa tese é compreender as características da produção científica de pesquisadoras que protagonizaram a incorporação dos estudos de gênero na psicologia, à luz de uma análise antropológica e psicossocial sobre esse campo (Bordieu, 1983; Cardoso de Oliveira, 1988). Foram entrevistadas 16 mulheres que pesquisam no meio acadêmico da psicologia questões relativas aos estudos de gênero, descritos os núcleos de pesquisa e disciplinas em que atuam e investigados anais de eventos nacionais de três importantes associações científicas da psicologia, procurando identificar os trabalhos referentes ao campo intelectual feminista (Zanotta-Machado, 1997). As mulheres entrevistadas fazem parte de uma geração que viveu o impacto do paradigma modernizante proposto pelo feminismo durante a década de 70 (Goldberg, 1989) e que privilegiou, em sua carreira acadêmica, a pesquisa sobre a violência, o trabalho, a família, a educação, a sexualidade e a saúde reprodutiva. Os núcleos de pesquisa em que trabalham enfocam temáticas que favorecem a relação dos fenômenos sócio-culturais com aqueles relacionados à subjetividade, quase sempre articulando questões de gênero, etnia, classe e geração. Nos eventos nacionais analisados, identifica-se a década de 90 como o auge histórico da incorporação dos estudos de gênero ao meio científico da psicologia. A diversidade de temas e teorias é uma constante dessa produção, desenvolvida com base num intenso diálogo interdisciplinar. De modo geral, os estudos de gênero na psicologia brasileira inserem-se na psicologia social, por razões históricas, políticas e conceituais, dentre elas, a tendência desta última pensar o sujeito humano em seu contexto e superar o isolamento científico da psicologia em relação às demais ciências sociais. Tais estudos também podem ser considerados parte de uma reação crítica mais ampla ao modelo tradicional da psicologia, à suposição da universalidade do sujeito e ao pressuposto da objetividade do conhecimento científico (Flax, 1994). Os caminhos percorridos pelos estudos de gênero na psicologia brasileira, enfim, são produzidos pelas circunstâncias sócio-culturais em que se inserem suas protagonistas e pelas características inerentes à historicidade desse campo científico. |
pt_BR |