Vivenciando a amamentação de prematuros na unidade de cuidados neonatal: uma etnoenfermagem

Abstract

Embora os benefícios da amamentação sejam amplamente reconhecidos, as taxas de aleitamento materno exclusivo no mundo ainda estão abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde. Esse cenário decorre de diversos fatores culturais e obstáculos que permeiam o processo de amamentar, tais como o nascimento de um bebê prematuro que necessita de internação em uma Unidade Neonatal, além das influências do contexto cultural em que mães, família e equipe de enfermagem estão inseridas. O objetivo deste estudo foi: compreender a vivência da amamentação de prematuros na Unidade Neonatal na perspectiva de mães e equipe de enfermagem, à luz da Teoria Transcultural do Cuidado. Para tanto, foi adotada a Teoria Transcultural do Cuidado de Leininger, afim de compreender quais fatores culturais influenciam as práticas de amamentação, considerando os aspectos sociais e ambientais que afetam tanto as mães quanto a equipe de enfermagem. Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, por intermédio da etnoenfermagem de Madeleine Leininger. O local do estudo foi a Unidade Neonatal de uma maternidade pública, localizada no Estado de Santa Catarina, especificamente na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal e na Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal ? Método Canguru. Para captação de dados, foi adotado o modelo de triangulação de dados utilizando o diário de campo, o modo de observação-participação-reflexão e entrevista semiestruturada. O modelo Sunrise, proposto pela teorista, foi adaptado para a temática da pesquisa, permitindo uma análise holística. O estudo atendeu as recomendações éticas e foi aprovado pelo CEPESH/UFSC, com parecer favorável nº 70645723.3.0000.0121. A análise dos resultados culminou em dois manuscritos, sendo o primeiro intitulado ?Entre culturas e cuidados: a amamentação no contexto da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal?, no qual são apresentados e discutidos quatro padrões culturais: a amamentação como vínculo e identidade materna; visões de mundo e sua influência na amamentação; o cuidado cultural como proteção à amamentação; e influências maternas e femininas transmitidas entre gerações. Já o segundo manuscrito foi intitulado ?Aspectos culturais na Enfermagem: a amamentação de prematuros na Unidade Neonatal?. Dele surgiram três categorias: aspectos culturais promotores do aleitamento materno; rede de apoio e padrões culturais: influência da hospitalização; e contexto cultural da equipe e influências na amamentação. Identificou-se que a amamentação é uma prática influenciada por fatores culturais e que a Unidade Neonatal, pode, muitas vezes, ser considerada um ambiente hostil para as mães, contribuindo para o insucesso da amamentação. A pesquisa também revelou que, embora os profissionais de enfermagem desempenhem um papel central nesse processo, a incorporação de práticas culturalmente congruentes ainda é limitada. Isso ocorre devido às restrições do ambiente hospitalar e à falta de capacitação específica para atender às diversidades culturais das mães.

Abstract: Although the benefits of breastfeeding are widely recognized, exclusive breastfeeding rates worldwide are still below the levels recommended by the World Health Organization. This situation results from various cultural factors and barriers surrounding the breastfeeding process, such as the birth of a premature baby who requires admission to a Neonatal Unit, in addition to the influences of the cultural context in which mothers, families, and nursing staff are immersed. The aim of this study was to understand the experience of breastfeeding preterm infants in the Neonatal Unit from the perspective of mothers and the nursing staff, in light of Leininger's Transcultural Nursing Theory. To this end, Leininger?s Transcultural Nursing Theory was adopted in order to understand which cultural factors influence breastfeeding practices, considering the social and environmental aspects that affect both mothers and the nursing staff. This is a qualitative study, utilizing Madeleine Leininger?s ethnonursing approach. The study was conducted in the Neonatal Unit of a public maternity hospital located in the state of Santa Catarina, specifically in the Neonatal Intensive Care Unit and the Neonatal Intermediate Care Unit ? Kangaroo Method. Data collection followed a triangulation model, using field diaries, the observation-participation-reflection method, and semi-structured interviews. The Sunrise Model, proposed by the theorist, was adapted to the research theme, allowing for a holistic analysis. The study adhered to ethical recommendations and was approved by the CEPESH/UFSC, with favorable opinion number 70645723.3.0000.0121. The analysis of the results led to two manuscripts: the first entitled ?Between Cultures and Care: Breastfeeding in the Context of the Neonatal Intensive Care Unit,? in which four cultural patterns are presented and discussed: breastfeeding as a bond and maternal identity; worldviews and their influence on breastfeeding; cultural care as protection for breastfeeding; and maternal and feminine influences transmitted between generations. The second manuscript was titled ?Cultural Aspects in Nursing: Breastfeeding Preterm Infants in the Neonatal Unit.? From this manuscript, three categories emerged: cultural aspects promoting breastfeeding; support network and cultural patterns: influence of hospitalization; and cultural context of the team and influences on breastfeeding. It was identified that breastfeeding is a practice influenced by cultural factors and that the Neonatal Unit is often considered a hostile environment for mothers, contributing to breastfeeding failure. The research also revealed that, although nursing professionals play a central role in this process, the incorporation of culturally congruent practices remains limited. This occurs due to the constraints of the hospital environment and the lack of specific training to address the cultural diversity of mothers.