Utopia dos escombros: o sonho poético da comunidade (im)possível em Mia Couto

Abstract

O presente trabalho tem como objetivo entender o papel de Terra sonâmbula, obra do escritor moçambicano Mia Couto, na formação de um imaginário de Moçambique após a guerra civil, em diálogo com outras obras do autor. O país passou, ao longo de 16 anos, por um violento conflito armado, que resultou em mortes, deslocamentos e uma dura realidade para milhões de pessoas. A partir disso, discutiremos aqui a possibilidade de criar uma utopia a partir da destruição e como a literatura pode formar uma narrativa necessária para a sonhar uma nova nação. O estudo traz uma abordagem pertinente sobre a historiografia e a elaboração de conhecimento sobre África, assim como o debate sobre a formação do Estado Nação moçambicano ao longo do século XX, incluindo a criação de uma literatura nacional. No que concerne à guerra, aspectos de memória e de narração são profundamente analisados para culminar numa última abordagem sobre aspectos de emergência da utopia e da invenção de um novo épico. É destacado aqui o papel central das paisagens e das não-comunidades neste tipo de narrativa. O percurso teórico ao longo da pesquisa é povoado, na maior parte, por estudiosos fora do cânone europeu com referência nos pensadores africanos ou mesmo de diáspora como Achille Mbembe, Kwame Anthony Appiah, Frantz Fanon, Paul Gilroy, Homi Bhabha, Francisco Noa e Nazir Ahmed Can, assim como Édouard Glissant que embasa metodologicamente esta pesquisa. Busca-se contribuições pontuais de teóricos europeus como Benedict Anderson, Aleida Assmann, Walter Benjamin e Marc Augé.

Abstract: The present work aims to understand the role of Terra Sonâmbula, a work by Mozambican writer Mia Couto, in the formation of an imaginary of Mozambique after the civil war, in dialogue with other works by the author. The country went through a violent armed conflict for 16 years, which resulted in deaths, displacement and a harsh reality for millions of people. From this, we will discuss here the possibility of creating a utopia from destruction and how literature can form a necessary narrative to dream of a new nation. The study brings a pertinent approach to historiography and the development of knowledge about Africa, as well as the debate on the formation of the Mozambican Nation State throughout the 20th century, including the creation of national literature. Regarding war, aspects of memory and narration are deeply analyzed to culminate in a final approach to aspects of the emergence of utopia and the invention of a new epic. The central role of landscapes and non-communities in this type of narrative is highlighted here. The theoretical path throughout the research is populated, for the most part, by scholars outside the European canon with reference to African or even diaspora thinkers such as Achille Mbembe, Kwame Anthony Appiah, Frantz Fanon, Paul Gilroy, Homi Bhabha, Francisco Noa and Nazir Ahmed Can, as well as Édouard Glissant who methodologically supports this research. Specific contributions are sought from European theorists such as Benedict Anderson, Aleida Assmann, Walter Benjamin and Marc Augé.