Epistemicídio e ambiente acadêmico: um estudo exploratório sobre o silenciamento de estudantes nos cursos do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina

Abstract

Este estudo se propõe a pensar o epistemicídio no ambiente acadêmico considerando o silenciamento de estudantes. O objetivo geral é compreender como o silenciamento pode operar como um mecanismo do epistemicídio no ambiente acadêmico do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Pretende-se também analisar a percepção dos estudantes sobre sua participação em sala e averiguar a relação entre tal participação e os marcadores sociais, além de identificar fatores que, na perspectiva discente, tornam ou não o ambiente acadêmico receptivo para a construção do conhecimento. Para tanto, foram analisados os dados obtidos através de um questionário com perguntas abertas e fechadas, divulgado a todos os cursos de graduação do CFH e que obteve 113 respondentes. A perspectiva de análise foi a interseccionalidade e essa escolha se deu a partir do reconhecimento da forma articulada e complexa com a qual os marcadores sociais operam. A fundamentação teórica se deu a partir de autoras como Sueli Carneiro, Patrícia Hill Collins, Grada Kilomba, bell hooks e outros autores. Foi possível inferir que o ambiente acadêmico se apresenta de maneira mais hostil para a participação epistêmica de estudantes de grupos socialmente marginalizados, como estudantes pretos, pardos e indígenas, estudantes de classes sociais baixas e estudantes dissidentes de gênero. Considerando a sala de aula um espaço onde devem ser criadas possibilidades para a construção do conhecimento, o silenciamento, em especial destes estudantes, acarreta na perda de contribuições para a produção epistêmica e no apagamento de seus saberes, operando assim como um mecanismo do epistemicídio.

This study proposes to think about epistemicide in the academic environment, considering the silencing of students. The general objective is to understand how silencing can operate as a mechanism of epistemicide in the academic environment of the Centre for Philosophy and Human Sciences (CFH) of the Federal University of Santa Catarina (UFSC). The aim is also to analyse the students' perception of their participation in the classroom and to assess the relationship between this participation and social markers, as well as to identify factors which, from the students' perspective, make the academic environment receptive to the construction of knowledge or not. To this end, data obtained through a questionnaire with open and multiple choice questions was analysed. The questionnaire was sent to all undergraduate students in the courses of the CFH and 113 responses were obtained. The perspective of analysis was intersectionality and this choice was based on recognising the articulated and complex way in which social markers operate. The theoretical foundation for this work was based on authors such as Sueli Carneiro, Patrícia Hill Collins, Grada Kilomba, bell hooks and others. It was possible to infer that the academic environment is more hostile to the epistemic participation of students from socially marginalised groups, such as black, brown and indigenous students, students from lower social classes and gender dissident students. Considering that the classroom is a space where possibilities for the construction of knowledge must be created, silencing these students in particular results in the loss of their contributions to epistemic production and the erasure of their knowledge, thus operating as a mechanism of epistemicide.