Avaliação de risco de viés em estudos relacionando a neurogênese hipocampal à ação dos antidepressivos

Abstract

Os fármacos antidepressivos são eficazes no tratamento de diversos transtornos psíquicos. Existem diversas teorias voltadas à explicação do mecanismo de ação desses fármacos. A teoria neurogênica da depressão atribui os efeitos comportamentais dos fármacos antidepressivos à restauração da neurogênese no hipocampo. Os estudos que dão suporte a esta teoria foram, em sua maioria, feitos em roedores de laboratório adultos. No entanto, os dados dessa literatura são controversos ao estabelecer a relação entre a neurogênese hipocampal e os efeitos comportamentais dos antidepressivos. Para ajudar resolver essas controvérsias, foi conduzida uma revisão sistemática da literatura incluindo estudos feitos em roedores de laboratório, sem restrições de sexo ou idade, tratados com antidepressivos antes de serem submetidos a diferentes testes comportamentais. Os resultados permitiram classificar os efeitos do antidepressivos em testes comportamentais como mais ou menos dependentes da neurogênese hipocampal. Porém, a interpretação destes dados deve ser realizada com cautela, devido à incerteza do grau de qualidade dos estudos incluídos na revisão. Apesar de úteis para sintetizar e avaliar a qualidade metodológica de um grande número de estudos na literatura, as revisões sistemáticas podem se tornar obsoletas à medida que novos estudos se tornam disponíveis, tornando os resultados imprecisos ao longo do tempo. Para reduzir o impacto dessas desatualizações, há a proposta de fazer revisões vivas, i.e., revisões constantemente atualizadas. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi tornar viva a revisão sistemática e meta-análise dos estudos sobre a teoria neurogênica da depressão e avaliar a qualidade interna e externa dos estudos. Para isso, identificou-se nas bases virtuais 23 publicações relevantes (no MEDLINE, via PubMed, no Web of Science, no Embase e no Scopus, via Portal de Periódicos CAPES) publicadas até a data final das buscas (31 de janeiro de 2022 a 10 de março de 2023). Foram extraídos, de cada estudo, dados qualitativos das informações referentes ao modelo animal, protocolos de estresse, testes comportamentais, tipo e aplicação do antidepressivo e marcador de neurogênese. A qualidade dos estudos incluídos na atualização foi investigada usando ferramenta Risk of Bias da Syrcle, para a qualidade interna, e a checklist CAMARADES para a qualidade externa. Todas as análises foram realizadas utilizando o pacote Robvis do software R. Os resultados indicaram um aumento modesto da qualidade interna e externa dos estudos incluídos na atualização quando boas práticas de experimentação e de relatos nos estudos com animais foram seguidas e aplicadas.

Antidepressant drugs are effective in the treatment of various mental disorders. There are several theories aimed at explaining the mechanism of action of these drugs. The neurogenic theory of depression attributes the behavioral effects of antidepressant drugs to restoration of neurogenesis in the hippocampus. Studies supporting this theory have mostly been done on adult laboratory rodents. However, data from this literature are controversial when establishing the relationship between hippocampal neurogenesis and the behavioral effects of antidepressants. To help resolve these controversies, a systematic review of literature was conducted including studies carried out on laboratory rodents, without restrictions of sex or age, treated with antidepressants before being submitted to different behavioral tests. The results allowed classifying the effects of antidepressants in behavioral tests as more or less dependent on hippocampal neurogenesis. However, the interpretation of these data must be carried out with caution, due to the uncertainty of the degree of quality of the studies included in the review. Although useful for synthesizing and assessing the methodological quality of a large number of studies in the literature, systematic reviews can become obsolete as new studies become available, making the results inaccurate over time. To reduce the impact of these outdated updates, there is a proposal to make living reviews, i.e., reviews constantly updated. Therefore, the objective of this work was to make “living” the systematic review and meta-analysis of studies on the neurogenic theory of depression and to assess the internal and external quality of the studies. For this, 23 relevant publications were identified in the virtual databases (in MEDLINE, via PubMed, in Web of Science, in Embase and in Scopus, via Portal de Periódicos CAPES) published until the final date of the searches (January 31, 2022, to March 10, 2023). Qualitative data were extracted from each study regarding the animal model, stress protocols, behavioral tests, type and application of antidepressant and neurogenesis marker. The quality of the studies included in the update was investigated using Syrcle's Risk of Bias tool for internal quality and the CAMARADES checklist for external quality. All analyzes were performed using the Robvis package of R software. The results indicated a modest increase in the internal and external quality of the studies included in the update when good experimentation and reporting practices in animal studies were followed and applied.