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O ácido hialurônico (AH), também conhecido como “hialuronana”, é um dos principais
constituintes da pele. Trata-se de um polímero natural do tipo glicosaminoglicano composto
por unidades repetidas de ácido D-glucurônico e N-acetil-D-glucosamina. Fisiologicamente,
encontra-se presente no tecido conjuntivo, pele e líquido sinovial. Contribui para a integridade
mecânica destes tecidos e lubrificação de estruturas intracelulares. No campo da estética facial,
o AH é utilizado para recuperar o volume perdido por alguns tecidos, remodelar o contorno e a
topografia facial ou ainda suavizar rugas e sulcos. O AH é padrão-ouro em preenchedores
faciais por ser um material biodegradável, biocompatível, não-imunogênico, possui alta
capacidade absortiva e um comportamento viscoelástico após o contato com meios aquosos.
Ainda, procedimentos estéticos com AH podem ser revertidos pela ação de hialuronidades, uma
vantagem em relação a outros preenchedores dérmicos. Por outro lado, quando utilizado na sua
forma natural, este polímero sofre rápida degradação devido a ação destas enzimas ou a danos
oxidativos, apresentando curta duração no organismo (2-3 dias). Assim, modificações químicas
do polímero tem sido consideradas a fim de viabilizar e popularizar seu uso como preenchedor
facial. O processo de reticulação conecta as cadeias lineares de AH, transformando-as em uma
rede tridimensional. Com isto, suas propriedades biofísicas são melhoradas, resultando em
estruturas poliméricas mais rígidas e resistentes à degradação. Hidrogéis de AH reticulado não
exigem testes de alerginicidade, apresentam alta capacidade de absorção de fluidos e as
propriedades biofísicas podem ser ajustadas até a obtenção de um comportamento parecido com
cada sítio/local a ser tratado. O BDDE (1,4-butanodiol diglicidil éter), DVS (divinilsulfona) e
o PEGDE (polietilenoglicol diglicil éter) tem sido os agentes de reticulação mais utilizados. O
tipo e concentração destes agentes afetam o grau de reticulação, viscoelasticidade, coesividade,
tamanho de partícula e intumescimento, o que tem relação com o desempenho do produto.
Como o AH pode ser obtido a partir de diferentes fontes animais e bacterianas e apresenta um
peso molecular variável, uma caracterização periódica deste polímero deve ser realizada para
eventuais ajustes da proporção AH: reticulante. Parâmetros reológicos dos hidrogeis também
devem ser reavaliados com frequência para garantir a eficácia do produto. Nestes últimos
ensaios, é investigado o comportamento destas formulações após serem submetidas a diferentes
forças de deformação (torção/cisalhamento lateral e estiramento/compressão). Este
comportamento pode ser do tipo viscoso (G") e/ou elástico (G'). O G' fornece informações a
respeito da dureza/rigidez do material enquanto o G" tem relação com a mobilidade molecular.
Altos valores de G' indicam hidrogéis com efeito tensor e capacidade de volumização
significativos. Por esta razão, são recomendados para preenchimento de rugas profundas da
face. Por outro lado, hidrogeis com baixos valores de G' tem uma capacidade de preenchimento
(volumização) limitada e então são recomendados para tratar linhas finas de regiões superficiais
da face e para preenchimento labial. Ainda que a alta dureza do material resulte em um maior
tempo de permanência do hidrogel na pele, limitações durante a aplicação do produto (no
momento da saída da seringa) são convencionalmente encontradas devido a dificuldades de
escoamento do material. Uma estratégia que tem sido considerada para resolver este problema
é a utilização de uma mistura de AH reticulado e não reticulado. Apesar da rápida degradação,
o AH não reticulado facilita o escoamento do hidrogel no momento da aplicação. A coesividade,
por sua vez, tem a ver com a capacidade de um material não se dissociar devido à afinidade
mútua entre os seus componentes. Baixos valores de coesividade indicam que o hidrogel se
dissocia e se distribui facilmente na pele. Regiões de alta mobilidade ou mais superficiais
exigem sistemas com essas características justamente para evitar o acúmulo indesejável em
sítios específicos da pele. Apesar dos avanços no desenvolvimento de preenchedores dérmicos
de AH e o conhecimento de que existe um produto adequado para cada região facial, o
consumidor ainda exige produtos com uma maior duração. A indústria cosmética entende esta
necessidade, mas ainda caminha na direção de entender o efeito de variáveis de formulação no
resultado clínico, fato que também foi priorizado nesta revisão de literatura. Por fim, destacase a necessidade de investigação de novos candidatos a agentes reticulantes ou modificações
químicas capazes de gerar produtos inovadores com ainda mais benefícios ao consumidor |
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Injectable hyaluronic acid (HA) hydrogels have been popularized in the facial aesthetics as they
provide a long-lasting effect, low risk of complications, no require allergenicity tests prior to
application and can be removed by hyaluronidases. On the other hand, the development of these
systems requires in-depth studies of chemical mechanisms involved in hydrogel formation.
Ideal dermal fillers should temporarily fluidize during extrusion through the needle and quickly
recover its original shape after application. Hydrogels with more elastic properties, for example,
are difficult to inject while viscous materials are too liquid. A balance between both properties
should be achieved. Each region of the face also requires products with distinct rheological
properties. High G' dermal fillers are preferable for deeper wrinkles whereas the counterpart
with lower values of G' are more indicated in superficial wrinkles or lip augmentation. Several
factors such as HA molecular weight and concentration, pH, type and concentration of
crosslinking agent, particle size, crosslinking reaction time and crosslinking
agent/polysaccharide ratio should be considered to modulate the rheological properties
desirable for the hydrogel. In this review, the effect of each variable is discussed in detail to
guide the development of new dermal fillers in a more rational way. |
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