Os efeitos do estresse precoce nos comportamentos exploratório, de risco e de consumo de álcool em camundongos adultos

Abstract

A resposta fisiológica ao estresse faz parte do funcionamento normal do organismo e aparece em decorrência de uma ameaça real ou percebida à homeostase do indivíduo. As principais estruturas envolvidas nesta resposta são as que formam o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA) que, quando ativado, secreta o cortisol, hormônio responsável por dar início a uma série alterações no organismo a fim de preparar o indivíduo para lidar com a ameaça. O estresse precoce, enfrentamento de situação adversa durante a infância até os 18 anos de idade, é capaz de causar uma série de prejuízos ao indivíduo ? inclusive uma desregulação do eixo HHA. Isso ocorre devido a maior vulnerabilidade do sistema nervoso nesta fase, visto que este ainda não atingiu seu desenvolvimento completo. Dentre as consequências comportamentais do estresse precoce, pode-se destacar uma maior propensão a comportamentos de risco, incluindo o abuso de drogas como o álcool. Levando-se em consideração os prejuízos causados pelo estresse precoce e pelo consumo excessivo de álcool, o objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos do estresse precoce nos comportamentos exploratório, anedônico, de risco e de consumo de álcool em camundongos que foram submetidos ao estresse precoce induzido pelo modelo de separação materna (SM). Neste protocolo, as mães foram separadas dos filhotes por 3 horas diárias durante todo o período de amamentação. Após completarem 60 dias de vida, os animais foram testados a fim de se observar diferenças comportamentais entre o grupo controle (N=16) e o grupo estressado (N=16). Os resultados mostraram que a SM foi capaz de atrapalhar o ganho de peso dos animais durante a amamentação, quando comparados ao controle. Os animais estressados também apresentaram um comportamento exploratório maior no teste do campo aberto e uma maior propensão para explorar os braços abertos do labirinto em cruz elevado. No comportamento anedônico, apenas as fêmeas SM apresentaram comportamento diferente do controle, mesmo resultado observado no consumo de álcool. Com o protocolo experimental escolhido e a idade avaliada não foi possível observar muitas diferenças no comportamento exploratório e de risco entre os animais. No entanto, o que foi encontrado demonstra que o estresse precoce é capaz de alterar o comportamento dos animais e que, por isso, se fazem necessárias mais pesquisas a fim de se buscar entender cada vez mais como e em que grau o estresse precoce é capaz de interferir na vida do indivíduo.

Abstract: The physiological stress response is part of the organism's normal functioning and appears due to a real or perceived threat to the individual's homeostasis. The central system involved in this response is the hypothalamic-pituitary-adrenal (HPA) axis, which, when activated, secretes cortisol, a hormone responsible for initiating a series of changes in the body to prepare the individual to deal with the threat. Early life stress (ELS), the experience of an adverse situation during childhood up to 18 years of age, can cause a series of damages to the individual - including the dysregulation of the HPA axis. This is due to the greater vulnerability of the nervous system at this stage since it has not yet reached its full development. Among the behavioral consequences of ELS, there is a greater propensity to risk behaviors, such as drug abuse like alcohol. Considering the damage caused by ELS and excessive alcohol consumption, the objective of this study was to evaluate the effects of ELS on exploratory, anhedonic, risk-taking, and alcohol consumption behaviors in mice that were subjected to ELS induced by the maternal separation (MS) model. In this protocol, the dams were separated from the pups for 3 hours daily during the entire nursing period. After completing 60 days of life, the animals were tested to observe behavioral differences between the control group (N=16) and the stressed group (N=16). The results showed that MS was able to interfere with the weight gain of the animals during nursing when compared to the control. Stressed animals also showed greater exploratory behavior in the open field test and a greater propensity to explore the open arms of the elevated plus maze. In the anhedonic behavior, only the SM females showed a different behavior from the control, the same result was observed in alcohol consumption. With the chosen experimental protocol and the age evaluated, it was not possible to observe many differences in exploratory and risk behavior among the animals. However, what was found demonstrates that ELS can alter animals? behavior. Therefore, more research is needed to better understand to what degree ELS is capable of interfering in the life of the individual.