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A proposta da pesquisa, desenvolvida em 2014, foi compreender os significados de ser
criança na Costa da Lagoa, comunidade açoriana, localizada na Lagoa da Conceição,
em Florianópolis (SC). A definição da Costa partiu da concepção de que há
comunidades que mantém princípios de liberdade com as crianças que, de certa
maneira, possuem os tempos e os espaços, no ambiente natural e cultural, para se
desafiarem e crescerem. Fundamentada em concepções teóricas que consideram as
crianças como seres sociais, que têm o direito de serem respeitadas em suas
historicidades e culturas, constatei que estava convivendo com uma realidade
aparentemente simples, mas inegavelmente complexa. Neste percurso, a pesquisa traz
como objetivo geral a proposta de desvendar os sentidos e significados encontrados nas
relações estabelecidas pelas crianças, moradoras da Costa da Lagoa, entre o ser, o
brincar e a natureza. Tendo como objetivos específicos: a) ouvir as narrativas dos
velhos moradores sobre as suas memórias de infância, com foco na infância de outrora e
nas brincadeiras; b) encontrar os espaços de brincadeiras existentes na Costa da Lagoa
voltados às crianças residentes nessa comunidade, bem como se dão as suas
apropriações; c) buscar os significados das diferentes formas de brincar das crianças
moradoras da Costa da Lagoa; d) experimentar o cotidiano dessas crianças, detectando
suas experiências com e na natureza. A definição metodológica partiu da etnografia,
com seu “olhar de perto e de longe” e seu “olhar de dentro e de fora” e se configurou
como caminho a ser seguido, com predominância qualitativa e caráter descritivo. O foco
foram os velhos moradores e as crianças que, de maneira geral, estão habilitados a
participar do contexto social, segundo as suas vontades e as suas habilidades, pois
pertencer e fazer parte é um direito que se conquista ao nascer. A metodologia esteve
em permanente construção para dar conta de uma realidade dinâmica e mutante. Para a
coleta de dados foram utilizados diferentes instrumentos, complementares entre si:
observações participantes; caderno de apontamentos; conversas informais; visitas a
residências e moradores mais antigos; fotografias; filmagens; desenhos das crianças;
participação em eventos. Ao concluir a pesquisa, mas longe de saciar as inquietações
como pesquisadora, avalio que a etnografia oportunizou uma caminhada significativa
pelas trilhas e travessias da Costa. Os velhos moradores, que ali viveram as suas
infâncias, mesmo que permeadas pelo trabalho e por dificuldades, possuem lembranças
alegres e divertidas, mantendo vivacidade e participação social. As crianças que aí
vivem têm a oportunidade de realizar atividades no ambiente natural, entre árvores,
águas, terras e bichos. São crianças desafiadas a superar medos, a desenvolver o
autoconhecimento e a ampliar a capacidade de sensibilização. Posso afirmar que minha
estada na Costa foi uma “experiência vivida” em minha trajetória pessoal, como estudante e profissional. As conversas fluíram, as relações flutuaram, as fotografias
mergulharam e meu ser segue a sua navegação sabendo que há laços e compromissos
que são para sempre. |
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