História dos Conceitos e História Global: Temporalização na narrativa do movimento negro

Abstract

O projeto aqui apresentado tem como objetivo iniciar uma problematização teórica e historiográfica a respeito das modalidades de recepção da da História Global no Brasil. Seu pano de fundo é montado por um diálogo entre o conceito moderno de história, com sua ênfase na mudança em função do TEMPO, e seus limites para a compreensão de um mundo conectado e integrado ESPACIALMENTE.O problema que move a pesquisa é sintetizado pela seguinte questão: como pode vir a ser a história global produzida desde o Sul Global, mais especificamente aquela que começa a ser produzida desde o Brasil? Para começar a responder essa questão, neste primeiro ano sentimos a necessidade de introduzi-la a partir de um debate epistemológico, ou seja, de uma discussão a respeito das condições de possibilidade da produção do próprio conhecimento. Nesse primeiro movimento da pesquisa, entendemos as demandas do Movimento Negro Brasileiro não apenas como indicadores de uma dada realidade, mas como agentes da mudança social. Em que medida essas mudanças, que se expressam através de um vocabulário político próprio, alteram nossa relação com o tempo e com o espaço? Em que medida elas devem tensionar a própria escrita da história?

Para nos aprofundarmos na narrativa expressada pelo Movimento Negro Brasileiro e mais especificamente nos marcos temporais que são utilizados, iniciamos um trabalho de coleta de fontes através de repositórios digitais. Foi feito inicialmente um levantamento das entidades no movimento negro mais evidentes e próximas para esta coleta, sendo identificadas entidades do norte ao sul do país. Com isso passamos a salvar e categorizar estas fontes em manifesto ou cartaz e subcategorizar em notas de repúdio, denúncia, pesar, agitação, resgate histórico e eventos. Este último novamente subdividido em eventos de formação e de organização da comunidade. Desta forma acredita-se que se abre uma possibilidade de análise profunda sobre tais narrativas evidenciando as formas de entender e organizar o tempo e habitar espaços, ressaltado pela narrativa do Movimento Negro Brasileiro. Feita a coleta e inventário dessas fontes, o próximo passo da pesquisa será o de confrontar essas demandas com as respostas presentes em dois outros tipos de documentos: 1) Editais e ofícios produzidos em âmbito universitário regulamentando as ações afirmativas; 2) Planos de ensino produzidos por professoras e professores de teoria da história e história da historiografia. Os documentos institucionais nos permitirão entender até que ponto as demandas do Movimento Negro foram atendidas. Os planos de ensino, por outro lado, nos ajudarão a pensar o impacto da inclusões de corpos e vozes negras no espaço universitário a partir da problematização do que chamamos de “memória disciplinar”: dos nomes e autoras/es que chamamos quando queremos lembrar da história de nossa própria profissão - e das formas de reflexão teórica que mobilizamos sobre ela. Por fim, o levantamento será confrontado com o Estado da Arte da História Global no Brasil. Qual a relevância do nosso lugar epistêmico para uma área de estudos tão focada em problemas espaciais? Entender aquilo que chamamos provisoriamente de “perspectivas decoloniais” como uma abordagem que concorre para a constituição da História Global no Brasil é nossa aposta de partida. Nosso levantamento preliminar indica a pertinência da questão. Mas essa é uma questão que não diz respeito apenas à história da historiografia, sequer a seu estado presente, mas ao próprio futuro da escrita da história.