"Violência fascinante em vidas tão normais": relações de estigmatização e invisibilidade social na recepção de noticiários criminais

Abstract

Fundamentada no princípio de que a televisão é uma instituição social relevante na produção cotidiana de sentidos e, simultaneamente, um dispositivo de biopoder, esta pesquisa tem como objeto de estudo as implicações da estigmatização e da invisibilidade social de personagens agressores e vítimas em noticiários criminais. A partir de um estudo de recepção de matriz sociocultural com telespectadores de três áreas da Região Metropolitana de Curitiba mais estigmatizadas pelos programas Tribuna da Massa, da Rede Massa/SBT, e Balanço Geral, da RICTV/Record, o estudo tem dois objetivos centrais. O primeiro é compreender a construção e as apropriações de estereótipos na narrativa criminal a partir da estigmatização e da invisibilidade social. O segundo é avaliar como os telespectadores negociam, reinterpretam e reelaboram sentidos aos conteúdos de segurança e violência. O objeto empírico é formado por 950 inserções noticiosas extraídas de 79 edições dos dois noticiários e pelo conteúdo de entrevistas com 18 telespectadores que moram nas três regiões onde mais crimes foram midiatizados: os municípios de Colombo (Tribuna da Massa) e São José dos Pinhais (Balanço Geral), além do bairro Cidade Industrial de Curitiba (ambos). Os procedimentos metodológicos estão divididos em três fases: 1) Análise de conteúdo quanti-qualitativa dos noticiários para entender a construção de personagens na narrativa criminal, levando em conta categorias como região geográfica, faixa etária, gênero, etnia, nível de renda, nível educacional e ocupação profissional; 2) Aplicação de questionário para localizar e selecionar telespectadores dos programas que moram nas três regiões; 3) Entrevistas em profundidade com a finalidade de compreender como a audiência interpreta e se apropria desses programas cotidianamente. Como o jornalismo se configura como um dispositivo de biopoder, a vertente criminal emprega técnicas narrativas que valorizam a vida ao contrastá-la insistentemente com a morte. O jornalismo criminal, portanto, é capaz de produzir, nos espaços de recepção/mediação, experiências que sustentam princípios de conservadorismo e intolerância, pautadas pela família, religião e pela moral do trabalho.

Abstract : Based on the principle that television is a relevant social institution in the daily production of senses and, simultaneously, a device of biopower, this research has as object of study the implications of the stigmatization and social invisibility of characters aggressors and victims on criminal news. From a reception study of sociocultural matrix with viewers from three areas of the Curitiba Metropolitan Region that are more stigmatized by the programs Tribuna da Massa of Rede Massa/SBT and Balanço Geral of RICTV/Record, the study has two central objectives. The first is to understand the construction and appropriation of stereotypes in the criminal narrative from stigmatization and social invisibility. The second is to assess how viewers negotiate, re-interpret and re-elaborate meanings of security and violence content. The empirical object is formed by 950 news inserts extracted from 79 editions of the two newscasts and by the content of interviews with 18 viewers who live in the three regions where most crimes were mediated: the cities of Colombo (Tribuna da Massa) and São José dos Pinhais (Balanço Geral), besides the district Cidade Industrial of Curitiba (both). The methodological procedures are divided into three phases: 1) Quantitative-qualitative content analysis of the newscasts to understand the construction of characters in the criminal narrative, taking into account categories such as geographic region, age group, gender, ethnicity, income level, educational level and professional occupation; 2) Application of a questionnaire to locate and select viewers of the programs that live in the three regions; 3) In-depth interviews aiming understands how the audience interprets and appropriates these programs on a daily basis. As journalism is configured as a device of biopower, the criminal branch employs narrative techniques that value life by repeatedly contrasting it with death. Criminal journalism, therefore, is capable of producing, in the reception/mediation spaces, experiences that support principles of conservatism and intolerance, guided by family, religion and work morality.