SUBSÍDIOS PARA A PROMOÇÃO DO ACESSO À HORMONIOTERAPIA NO MUNICÍPIO DE FLORIANÓPOLIS/SC: UM ENFOQUE PARA HOMENS TRANS

Abstract

As pessoas trans tem tido suas questões de saúde secundarizadas e colocadas à margem da sociedade. O objetivo dessa monografia é identificar subsídios teóricos para promover o acesso à assistência farmacêutica com enfoque na hormonioterapia para homens trans. O percurso metodológico foi conduzido em três etapas. 1) Busca manual de consensos internacionais de hormonioterapia para pessoas trans e verificação dos medicamentos disponíveis no Brasil. 2) Busca sistematizada da literatura de efetividade e segurança das apresentações de testosterona disponíveis no Brasil nas bases de dados PUBMed e BVS. Foram incluídos os estudos que responderam ao PICO: P: pessoas trans, I: testosterona, C: nenhum ou outras testosteronas, D: efetividade e segurança na masculinização. Durante a leitura completa, foram excluídos os estudos que incluíram apresentações de testosterona que não estão disponíveis no Brasil. 3) Estimativa de custo anual/hormônio/homem trans. Na busca sistematizada, dos 109 potenciais estudos, 14 foram revisados. A duração dos estudos foram de 4 a 24 meses. Dez estudos utilizaram undecanoato de testosterona 1000 mg, oito a mistura de ésteres de testosterona 250mg e cinco a testosterona gel transdérmico 50mg como terapia hormonal. Doze estudos apontaram desfechos de efetividade. Foi observado em todos os estudos que a testosterona atingiu a concentração plasmática desejável e na maioria, diminuições significativas dos hormônios femininos. Foi observado um aumento do peso corporal, com diminuição da gordura corporal, aumento da massa magra, e redução da circunferência do quadril. Foi encontrado um aumento dos pelos corporais barba e mudanças na voz. Dez estudos trataram de desfechos de segurança. A maioria dos estudos apresentou alterações no perfil lipídico com aumento do colesterol de baixa densidade, diminuição do colesterol de alta densidade, e aumento nos triglicerídeos. Houve inconsistências nos resultados quanto às enzimas hepáticas e pressão arterial. Observou-se um aumento de hematócrito e de hemoglobina. Dois estudos avaliaram os efeitos nos parâmetros metabólicos relacionados à glicose. Um estudo observou os efeitos da testosterona sobre os parâmetros metabólicos renais e não encontrou resultados significativos. Um estudo observou os efeitos da testosterona sobre precursores de neurotransmissores e outro avaliou os efeitos sobre os metabólitos da dopamina. Um estudo observou se a testosterona produzia síndrome do ovário policístico em homens trans entretanto não foi encontrado nenhum resultado estatisticamente significativo em relação ao grupo controle (mulheres cisgênero). Dois estudos analisaram os efeitos da testosterona sobre a acne e ambos encontram aumento da acne. Um estudo observou os efeitos da testosterona sobre a coagulação e parâmetros ósseos. Em conclusão, A testosterona se mostrou efetiva em manter os níveis plasmáticos dentro do nível esperado, bem como em reduzir os hormônios feminilizantes e promover características ditas masculinizantes nos homens trans. Em geral os estudos mostraram a segurança da testosterona, entretanto mais estudos precisam ser conduzidos com esta população no que diz respeito à segurança.