A academia, seus peritos e a produção industrial de alimentos

Repositório institucional da UFSC

A- A A+

A academia, seus peritos e a produção industrial de alimentos

Mostrar registro completo

Título: A academia, seus peritos e a produção industrial de alimentos
Autor: Diamico, Manuela de Souza
Resumo: Nosso objetivo é analisar o que denominamos campo acadêmico dos estudos alimentares constituído por disciplinas como engenharia de alimentos, nutrição, tecnologia de alimentos, entre outras. Entendemos campo como o lugar de disputas por reconhecimento e legitimidade que delimitam as atuações dos seus componentes. Os componentes analisados são os professores que atuam nas universidades e na formação profissional. Devido à centralidade que as controvérsias científicas sobre alimentos saudáveis e os riscos alimentares têm na sociedade contemporânea, procuramos identificar como aquelas aparecem no campo estudado. Discutimos este tema a partir da ótica dos cientistas e engenheiros de alimentos que atuam na academia. Essa é uma pesquisa que pode ser considerada pioneira na área de sociologia da alimentação e na área dos estudos sociais da ciência e da técnica e, por este motivo, em certa medida, exploratória. Abordamos a trajetória da construção das disciplinas deste campo, bem como suas diferenças na UFSC (Brasil) e na Ulg (Bélgica). Realizamos pesquisa documental sobre os cursos, seus currículos e as políticas governamentais de ensino superior; análise de artigos acadêmicos; entrevistas semi-estruturadas, tendo como fio condutor as definições e significados do que entendem por alimento saudável e as implicações deste segmento em suas pesquisas. Argumentamos que a interface entre o campo da saúde e da alimentação é uma zona de tensão em que a definição do que seja considerado saudável torna-se um importante argumento na disputa por legitimidade, reconhecimento e espaço de atuação. Esta tensão reflete-se, por exemplo, na falta de consenso sobre o lugar da nutrição entre estes dois campos, pois embora os conhecimentos nutricionais sejam a base para as alegações sobre a saúde dos alimentos que são industrializados, o curso de nutrição não é necessariamente reconhecido como parte desse campo. A análise do campo acadêmico no Brasil e na Bélgica facilitou identificar articulações entre a academia e outros atores no processo de produção do conhecimento científico e nas tensões envolvidas neste processo. Partindo da concepção de que o campo não é uma estrutura estática, mas que depende das negociações entre diferentes setores na sua construção e manutenção, identificamos as interfaces da academia com as políticas públicas de ensino superior e de desenvolvimento econômico que, por sua vez, influenciam a maneira como os professores atuam no processo de construção de conhecimentos e inovações científicas. Nesse contexto os financiamentos de pesquisa têm um importante papel e a maneira como eles estão estruturados nos dois países se traduz no habitus profissional, criando no Brasil umaconcorrência individual e na Bélgica uma concorrência de ?networks?. Argumentamos que esta concorrência influencia como os entrevistados percebem sua área de atuação, defendendo um formato do campo mais abrangente (tradicional) ou mais especializado e diversificado (revolucionário), de acordo com a disponibilidade de recursos e de mercado. O posicionamento tradicional ou revolucionário reflete, portanto, não só uma luta pelo reconhecimento, mas também pelo espaço de atuação e pelos recursos de financiamento de pesquisa.<br>Abstract: Our goal is to analyse what we call academic field of food studies that is consisted of disciplines such as food engineering, nutrition, food technology, among others. We understand field as the place of disputes for recognition and legitimacy and that define the actions of its components. The analysed components are the professors-researchers who work at universities. Based in the centrality that scientific controversies about healthy food and food hazards have in contemporary society, we try to identify how those appear in the studied field. We discuss this topic from the perspective of the scientists and engineers of foods that work at the academy. This research can be considered a pioneer in the food sociology and in social studies of science and technology and, therefore, to some extent, exploratory. We approach the trajectory of the construction of the subjects of this field, as well as their differences in UFSC (Brazil) and ULG (Belgium). We conducted documentary research about the courses, their curricular program and the government policies of higher education; analysis of scholarly articles; semi-structured interviews, having as the common thread the definitions and meanings of what is considered healthy food and the implications of this segment in their research. We argue that the interface between the field of health and of food is a tension area in which the definition of what is considered healthy becomes an important argument in the fight for legitimacy, recognition and performance space. This tension can be noticed, for example, on the lack of consensus on the role of nutrition between these two fields, as although the nutritional knowledge is the basis for the claims about the health of foods, the nutritionist as a professional is not necessarily recognized as part of this field. The comparison of the academic field in Brazil and Belgium helped to identify the links between academia and other stakeholders in the scientific knowledge production process and the tensions involved in this process. Starting from the assumption that the field is not a static structure, but it depends on the negotiations between different sectors for their construction and maintenance, we identify the interfaces between the academia and the public policies of higher education and economic development that, in turn, influence the way the teachers work in the construction of knowledge and scientific innovations. In this context, the research funding has an important role and the way they are structured in two countries has influence in the professional habitus, creating in Brazil an individual competition and in Belgium a competition of "networks". We argue that this competition influenceshow respondents perceive their area, advocating a broader field format (traditional) or more specialized and diversified (revolutionary), according to the availability of resources and market. The traditional or revolutionary position reflects therefore not only a struggle for recognition, but also for the performance space and for the research funding resources.
Descrição: Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política, Florianópolis, 2016.
URI: https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/167765
Data: 2016


Arquivos deste item

Arquivos Tamanho Formato Visualização
339969.pdf 2.702Mb PDF Visualizar/Abrir

Este item aparece na(s) seguinte(s) coleção(s)

Mostrar registro completo

Buscar DSpace


Navegar

Minha conta

Estatística

Compartilhar