Abstract:
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A Araucaria angustifolia (Bert.) O. Ktze, conhecida como araucária, árvore símbolo da fitofisionomia do sul brasileiro têm sido submetida historicamente à ações de uso e manejo nas paisagens onde está inserida no sul do Brasil. A espécie apresenta variedades botânicas, ou tipos, que têm sido manejadas diferentemente para uso de suas sementes (pinhões). A intensa exploração da madeira ao longo do século XX foi um dos principais motivos da redução populacional da espécie e hoje, seu uso e conservação enfrentam novos desafios que são a intensificação do consumo de suas sementes além de práticas de eliminação de plântulas, extração ilegal da madeira, entre outros. Neste contexto, estudos etnoecológicos sobre o conhecimento e manejo de variedades ou tipos da espécie, assim como estudos de sua ecologia populacional, podem auxiliar em políticas públicas que visem regulamentar práticas de uso e manejo. O objetivo deste trabalho foi entender aspectos etnoecológicos associados à conservação dos tipos de araucárias e a análise da estrutura populacional em áreas onde ocorre manejo da espécie no entorno do Parque Nacional de São Joaquim, SC, Brasil. Foi selecionada através da técnica de amostragem "snow-ball" uma amostra de 15 extratores, dos quais informações de manejo foram obtidas através de questionários semi-estruturados. Nas áreas de extração de sementes, foi feito um estudo da estrutura populacional dos tipos em áreas manejadas. Foram avaliados todos os indivíduos da espécie em nove parcelas de 40X40m em três diferentes áreas escolhidas no entorno do Parque Nacional, e foram tomados os dados de altura, DAP, sexo e distribuição espacial. Os extratores reconhecem 4 tipos de variedades de araucária, descritas como “Cajuvá”, “Macaco”, “De cedo” e “Do tarde”, sendo que, destes 4 tipos, os pinhões “Cajuvá” são os mais comercializados (26,7%). 73,33% dos entrevistados citaram que houve um aumento da quantidade de araucárias, possivelmente resultado da legislação ambiental, em especial da Portaria Normativa DC-20 de 1976 e da resolução CONAMA de 2001. Apesar disso, 100% dos entrevistados reconhecem que é praticada supressão de plântulas e indivíduos jovens para controlar a densidade populacional da espécie e para que esta não interfira nas áreas de pastagem. 46,66% dos entrevistados relataram que uma alta densidade populacional interfere na produção de pinhão, devido a competição por luminosidade (20%), por exemplo. Quanto ao uso de recursos madeireiros das araucárias, 80% dos entrevistados destacaram a necessidade do uso desses recursos madeireiros da espécie através de práticas de manejo sustentável (26,66%), auxílio do governo (20%) entre outros. Na análise da estrutura populacional, a média do número de indivíduos em cada área dos agricultores-extratores foi de 105 árvores, totalizando 315 indivíduos. Do total amostrado, 0,6% são da variedade “Cajuvá”, 7,3% da variedade “Do cedo” e 9,2% são da variedade “Do tarde”. Nas classes de diâmetro (DAP) notou-se distribuição irregular nas classes que vão de 6 até 18cm, que são as iniciais, o que demonstra irregularidade na distribuição espacial. A possibilidade de regulamentações do uso da espécie, principalmente no uso das sementes, só terá sucesso se estas forem desejadas em conjunto entre gestores e extratores locais. A legislação vigente parece não estar alcançando o sucesso pretendido e deve ser revista. A etnoecologia em conjunto com estudos da ecologia populacional da espécie podem contribuir para que este debate seja incrementado com informações dos usuários, assim como fornecer subsídios para a conservação da espécie, auxiliando na elaboração de novas propostas técnicas respaldadas pelo conhecimento tradicional associado. |