Abstract:
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Conhecido no sul do Brasil como boto-da-tainha, Tursiops truncatus apresenta distribuição cosmopolita e é amplamente estudado. No entanto, persistem algumas lacunas no conhecimento, principalmente no que se refere ao comportamento acústico e seus significados sociais. Assim, estudar a bioacústica torna-se uma peça essencial para a compreensão de padrões sociais e comportamentais, que são variados para a espécie. Entre as muitas técnicas de forrageio, por exemplo, destaca-se a pesca cooperativa entre botos e pescadores em Laguna, no sul do Brasil, durante a pesca da tainha. Neste trabalho, inicia-se um esforço de conectar o comportamento acústico com este comportamento singular. Os sons produzidos pelos botos durante a interação com pescadores foi comparado com períodos de ausência de cooperação. Em 11 dias de campo, entre 2010 e 2011, o repertório acústico foi captado por um hidrofone, com capacidade de registro de frequências de até 22 kHz, e gravado em fitas de áudio digital (DAT). As gravações resultaram na análise de 209 amostras de 55s cada, 117 durante a cooperação e 92 na ausência da cooperação. Foram avaliadas as características e variações apresentadas pelas emissões de ecolocalização, assobios e sons pulsantes explosivos (SPE). De modo geral, a população em estudo produz assobios com duração média de 0,131s, com predomínio de assobios descendentes e ascendentes. Os SPE apresentaram duração média de 0,672s, sendo mais numerosos os SPE de aparência modulada. A taxa de emissão de sons por indivíduo foi influenciada por três fatores. Grupos grandes de botos emitiram menos cliques de ecolocalização, assobios e SPE do que grupos médios e pequenos. A ecolocalização foi mais produzida durante a pesca cooperativa, enquanto os SPE foram mais numerosos na ausência de interação com os pescadores. Na presença de ruídos de embarcação foram emitidos menos assobios e SPE. A presença de filhotes nos grupos não influenciou a taxa de emissão dos sons, mas houve mudanças na distribuição dos assobios e SPE entre grupos com e sem filhotes. Os grupos com filhotes apresentaram proporcionalmente maior emissão de assobios modulados, enquanto para SPE a diferença ocorreu principalmente no forrageio sem interação, onde os SPE foram quase que exclusivamente modulados. Continuar descrevendo e investigando as variações deste repertório no contexto da pesca cooperativa potencialmente contribuirá para o entendimento dos mecanismos de origem e desenvolvimento deste comportamento singular. |