Abstract:
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A partir de um levantamento sobre plantas de uso medicinal nas comunidades Costa da Lagoa e Canto dos Araçás efetuado no ano de 1996, foi realizado um estudo sobre as plantas medicinais atualmente conhecidas e utilizadas nessas duas comunidades, com o intuito de retratar o conhecimento etnobotânico acerca destes recursos em dois momentos temporalmente distintos. A metodologia consistiu de entrevistas semi-estruturadas e turnês guiadas para a realização das coletas botânicas. Participaram da pesquisa 29 pessoas entre 21 e 82 anos de idade, de 3 grupos de informantes: reentrevistados (n=13), seus descendentes (n=12) e informantes-chave atuais (n=4), selecionados pelo método bola-de-neve. Foram calculadas as médias de citação por grupo de informantes e o coeficiente de Jaccard para verificar o índice de similaridade entre as listas de espécies levantadas. Na listagem livre foram citadas 98 plantas medicinais, distribuídas em 37 famílias botânicas. Dentre essas citações estão plantas cultivadas, extraídas e compradas. As plantas mais citadas pelos grupos de informantes foram: malva (Malva parviflora L.) e maçanilha (Chamomilla recutita (L.) Rauschert) pelos reentrevistados; hortelã Mentha spp. e boldo (Plectranthus barbatus Andrews) pelos descendentes; e alecrim (Rosmarinus officinallis L.) e erva-cidreira (Melissa officinalis L.) pelos informantes-chave. A folha é a parte da planta mais utilizada por todos os grupos e o modo de preparo mais comum é a infusão, seguido de decocção. O aprendizado sobre as plantas se dá principalmente através das relações familiares e de amizade, além de outras fontes de informação, como benzedeiras, programas de televisão, livros, entre outras. Dentre os grupos estabelecidos, o de informantes-chave atuais foi o que maior média de citações apresentou (21,5±4,33), ficando os outros grupos mais próximos entre si, sendo a média dos reentrevistados 12,77±3,48 e dos descendentes 11,83±3,60. As listas mais semelhantes entre si foram a dos reentrevistados e seus descendentes (Sj=0,54; ou aproximadamente 54% de similaridade, Tab. 1) e as menos semelhantes foram a dos informantes originais comparada com a dos informantes-chave e com a dos seus descendentes (Sj=0,37; 37% de similaridade). As pessoas continuam conhecendo e utilizando as plantas, mesmo com as transformações no modo de vida e o acesso ao serviço público de saúde e aos remédios industrializados. Observou-se que muitas plantas citadas não são facilmente encontradas nas comunidades e algumas são obtidas apenas através da compra. |