Abstract:
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A partir do questionamento de conceitos como realidade e verdade, enveredamos neste trabalho em desmistificar a ingênua ideia de autobiografia como “vida de um indivíduo escrita por ele mesmo”. A autobiografia foi pensada como uma abertura pela evocação das memórias e pelo trabalho com a linguagem; como uma forma de autoconhecimento e de reconhecimento de si no outro, a partir das ideias de Foucault; e como um jogo dialógico entre a identidade-mesmidade (eu, no tempo da enunciação) e identidade-ipseidade (o outro-eu, no tempo do enunciado) de Ricoeur; por oferecerem a ideia de uma realidade e de uma verdade do indivíduo que se altera com o tempo no movimento de se escrever, se ler e se reler, de abrir-se ao outro, por meio da narrativa. Nesse sentido, intentamos demonstrar que é a performance da linguagem que lhe garante a inscrição como narrativa de vida, refutando, pois, o conceito de Lejeune de “pacto autobiográfico”. Assim, entendemos a escrita de si como a leitura do outro, a autobiografia como alterbiografia, porque, ao passo que o sujeito escreve sobre si, já aí ele opera um movimento de projetar-se como um outro, para então penetrar a própria alma; e por também revelar uma coletividade, já que, conforme Mikhail Bakhtin, o sujeito se constitui pela linguagem e em sua práxis social. A partir disso, empreendemos uma análise de Infância como um jogo de espelhos, num eterno movimento de girar o caleidoscópio do eu. |